Onde estão os hit makers?
Experimento AI de Grimes que licencia sua voz não emplacou sucessos. Enquanto isso, música onchain explora efeito comunitário para escalar. Os paradoxos entre a iniciativa da DJ e o maior case da Web3
Se você não é assinante da The Block Point, junte-se à comunidade e fique por dentro da maior transformação desde o surgimento da internet: a Web3. Todas as quintas-feiras às 12:12 - é de graça!
Os fãs e a validação sobre as novas maneiras de produzir e consumir música
A estética metafísica da label Afterlife ganhou mais vida no Freedom Stage do Tomorrowland deste ano com a presença de Grimes. A DJ, produtora e defensora fervorosa das tecnologias emergentes levitou em meio aos efeitos visuais surreais característicos das performances de Anyma durante a apresentação da collab Welcome To The Opera.
O primeiro fim de semana do maior festival de música eletrônica do mundo, que estreou a edição de 2023 no último dia 21, encerrava-se com uma "teatralidade tecnocrática" que "levou a um dos maiores momentos" na Bélgica, conforme avaliação do portal EDM.
📝 A PRIMEIRA LEVITAÇÃO DE GRIMES: Anyma volta à Printworks para lançar ‘Genesys’, e mostra como artes visuais e a tecnologia emergente estão moldando o futuro da música
Grimes tinha plena consciência sobre a sensação introspectiva que provocou no público com seu repertório que mescla techno e teatro em uma exibição audiovisual inesquecível.
Logo após deixar o palco, ela twittou: "minha vida está nas mãos da máquina agora."
É bem provável que quem fez o post foi C, uma das personas incorporadas por Grimes, e revelada pelo Wired. Na última segunda-feira, a publicação trouxe uma longa entrevista com a artista, contando sobre suas várias facetas e ideias bem à frente do nosso tempo.
C é o artista que planeja ir além da música em empreendimentos envolvendo educação, AI e um livro chamado Transhumanism for Babies . Ela é a antiga parceira de Elon Musk "e co-pai de dois filhos". A personagem tem desenhos nos dedos sob vários anéis de metal e o que parece ser uma tatuagem de teia de aranha na orelha direita. C quer morrer em Marte, ou talvez em um exoplaneta - a menos que seus filhos , X e Y, queiram que ela ajude com os netos. C é franca, engraçada e um pouco preocupada por não estar transmitindo seus pontos de vista.
O presente de C remonta ao passado de Claire Boucher, o verdadeiro nome de Grimes dado "a uma criança de Vancouver obcecada por videogames e dedicada a provocar adultos com mau comportamento e adoção de assuntos tabus."
Hoje, a inteligência artificial definitivamente não é um tema proibitivo. Pelo contrário, a excitação ao redor da tecnologia só reforça as pretensões da artista de "fornecer uma plataforma para aspirantes a Grimeses através da magia da AI, trocar suas vozes pelas dela quando escreverem e tocar músicas. E tudo sem preocupações com direitos autorais."
E não podemos nos esquecer também da promessa da divisão igualitária dos royalties: 50/50.
“Eu só me preocupo em ultrapassar os limites da tecnologia e foder com a forma. O que é empolgante para mim sobre a AI, como a geração de voz, é que ela realmente fode com o que é um artista, o que é criatividade e o que é música. A arte me parece fundamental para a experiência humana. A maioria das pessoas, quando você realmente as pressiona, é criativa. Com a tecnologia, especialmente coisas como Midjourney, grandes pensadores filosóficos agora podem manifestar ideias em peças que são impressionantes e bonitas. Eu tenho chamado isso de ficção científica de mídia social", disse Grimes.
O Elf.tech, o software de AI generativo pioneiro lançado no início de maio, foi uma resposta à repreensão da indústria fonográfica quando o featuring Drake &The Weeknd criado pela máquina balançou o mercado.
Três meses depois, o projeto conseguiu emplacar um hitmaker?
A resposta é NÃO!
Mais de 300 músicas com GrimesAI foram enviadas para distribuição, de acordo com um oportuno review feito pelo New York Times sobre o case.
A música mais popular, Cold Touch , está com 852.210 streams desde seu lançamento. Isso é apenas cerca de 300.000 streams a mais do que o último single de Grimes, I Wanna Be Software , divulgado há duas semanas. Nenhuma outra faixa gerada com a voz artificial da cantora quebrou mais do que 100.000 streams.
"Os primeiros resultados do experimento Elf.tech sugerem que Ghostwriter977 pode ser um caso atípico e não a regra. Pelo menos para mim, saber que Grimes co-escreveu I Wanna Be Software desperta meu interesse auditivo mais do que se um fã reunisse a mesma faixa. Grimes está dizendo que quer ser software!", opinou Ashley Carman, analista de música da Bloomberg.
Questionada pelo Wired sobre os primeiros resultados do projeto, Grimes não entrou no mérito das estatísticas, porém destacou o entendimento dos fãs sobre uma criação que preserva a identidade e as origens do som da cantora:
"Há algumas coisas boas. Duas em particular eram muito, muito boas. Elas estão tão alinhadas com o que o meu novo álbum pode ser que foi um pouco perturbador. É do tipo: ‘Quem sou eu e por que estou aqui?’ Por outro lado, é do tipo: ‘Oh, que nojo, talvez eu viva para sempre’. Eu gosto da autorreplicação."
Todas as canções geradas precisam da aprovação da equipe de Grimes antes de serem registradas e distribuídas para os serviços de streaming. Elas também podem aparecer na lista de reprodução oficial do GrimesAI no Spotify. As tracks que estão rodando nas plataformas já estão acumulando royalties.
"É claro que o sucesso comercial sem brilho não significa que a tecnologia AI de Grimes seja um fracasso. Ainda é cedo neste universo e é importante entender como os fãs podem usar ferramentas sancionadas oficialmente", ponderou Carman.
Google e Universal Music negociam acordo sobre 'deepfakes' de AI
Trecho da reportagem do Financial Times (8/8)
O Google e a Universal Music estão em negociações para licenciar melodias e vozes de artistas para canções geradas por inteligência artificial, enquanto a indústria da música tenta monetizar uma de suas maiores ameaças.
As discussões, confirmadas por quatro pessoas familiarizadas com o assunto, visam estabelecer uma parceria para uma indústria que está lutando com as implicações da nova tecnologia de AI.
As conversas estão em um estágio inicial e nenhum lançamento de produto é iminente, mas o objetivo é desenvolver uma ferramenta para que os fãs criem essas faixas de forma legítima e paguem aos proprietários dos direitos autorais por isso, disseram pessoas próximas à situação . Os artistas teriam a opção de participar.
“A voz de um artista costuma ser a parte mais valiosa de seu sustento e personalidade pública, e roubá-la, não importa o meio, é errado”, disse o conselheiro geral da Universal Music, Jeffrey Harleston, aos legisladores americanos no mês passado.
Os fãs, certamente, terão um papel preponderante para validação sobre as novas maneiras de produzir e consumir música. E um dos maiores cases da música onchain ratifica essa premissa.
Após despontar em 2022 como promotor das produções que usam as redes blockchain, Daniel Allan levou, há dois meses, seu trabalho para as plataformas de streaming tradicionais, onde está a maioria de ouvintes que desconhece o universo da música Web3.
No último dia 31, Criteria ultrapassou a marca de um milhão de streams no Spotify.
O projeto é uma colaboração de Allan com Reo Cragun, e traz um compilado de oito faixas que misturam eletrônico com hip-hop.
Primeiramente, a coleção foi lançada em cinco plataformas de música onchain, disponibilizando 2.500 edições das tracks. Cada uma delas possuía uma raridade distinta.
Em março, o artista transformou-se em um negócio apoiado pela Daniel Allan Entertainment, uma C-corp que possui o IP e todos os streams, turnês e renda feita na Web3. Investidores fizeram o aporte de US$ 1 milhão.
As receitas oriundas da comercialização dos tokens musicais bateram cerca de US$ 600 mil entre vendas primárias e secundárias. Allan classifica o formato como o primeiro acordo Web360.
Agora, ele prepara-se para “tocar em grandes festivais e construir uma base de fãs profundamente integrada à futura carreira.”
No último dia 24, Allan foi convidado pelo DJ e produtor holandês San Holo para uma participação durante sua performance no Lollapalooza Paris. Um mês antes, o artista havia se apresentado no Tripolee Stage do Electric Forest.
Apelidado de The Music NFT Guy em 2022, Daniel Allan percorreu um caminho totalmente atípico, e que reforça sua trajetória como um dos expoentes da música onchain. ( ao fim desta edição, relembre nosso conteúdo que conta sobre a história do artista)
Apoiado, inicialmente, por 83 superfãs que abraçaram seus primeiros lançamentos, o músico aproveitou-se do poderoso efeito comunitário quando percebeu que artistas poderiam conectar-se diretamente com o seu público mais devoto.
Assim como ele também compreendeu que a nova tecnologia não anularia a indústria tradicional. Com o tempo, Daniel viu que a Web3 é um combustível para a velha internet:
“Não acho que seja um acidente e que não haja muita correlação entre as vendas de NFTs de música e streams. Quando comecei a lançar minhas primeiras peças no Catalog, não tinha absolutamente nenhum dinheiro, então vender as músicas era um sistema de suporte direto para pagar meu aluguel e comer. Eu estava experimentando de acordo com meus padrões, fazendo Web3 em primeiro lugar. E tive sorte com o tempo.”
O que Daniel Allan e outras centenas de artistas, incluindo a própria Grimes, que também lançou projetos apoiados pela Web3, têm feito ao alavancar a música onchain pode ser o fato novo que o insider Mark Mulligan pede para resgatar os super fãs.
A ascensão do streaming na última década limitou os gastos deste perfil de público. Conforme argumentou Mulligan, "aquelas pessoas que costumavam comprar vários álbuns todos os meses, agora gastavam apenas o custo de menos de um álbum para obter todas as músicas que poderiam desejar."
Na visão do especialista, tivemos 15 anos, ou seja, o tempo de quase uma geração, educando os consumidores de que a música não precisa custar mais de US$ 9,99, 10,99... Os superfãs foram superados:
"Portanto, para tornar os fãs super novamente, deve haver uma troca de valor genuína. Os fãs precisam de coisas novas para persuadi-los a gastar, que realmente construam e aprofundem seu fandom, em vez de simplesmente ser uma nova oportunidade de tosquiá-los por mais um dólar."
Considerando os dois formatos elevados pelas tecnologias insurgentes, a música onchain e as relações estabelecidas por uma maioria de artistas independentes nos mostra explicitamente que há uma geração de valor para a base mais fiel de apoiadores.
Por outro lado, no caso das faixas geradas por AI, com ou não consentimento do artista, temos a reprodução dos formatos de viralização que replicam os hábitos ruins das redes sociais e seus algoritmos. E isso pode não ser um bom indicativo.
📝 UM NOVO FORMATO: A integração da tecnologia blockchain e das faixas alimentadas por AI à música e a ascensão dos criadores não convencionais
O GrimesAI, por sua vez, não se insere nesta classificação pelo fato de propor uma interação autêntica, especialmente por causa dos valores de sua criadora. E seguir monitorando novos resultados desta iniciativa poderá nos dar um parâmetro mais real sobre o futuro da música impulsionado pelas máquinas.
Para a artista, a AI oferece oportunidades inimagináveis de colaborações. E, talvez, esse seja o argumento plausível para a virada do modelo.
"Sempre fui mais produtor e engenheiro. Não sou uma grande cantora por natureza e sou muito tímida. No começo da minha carreira, tentei encontrar um cantor/líder, mas ninguém faria isso por uma pequena artista indie no Canadá. Os momentos criativos mais gratificantes são quando posso trabalhar com outros artistas, especialmente outras mulheres. Eu posso me concentrar em todo o resto", disse.
É inegável reconhecer a proposta de vanguarda de Grimes amparada, especialmente, por sua sua coragem de autoafirmação de uma personagem fiel a seus valores. E a despeito de sua devoção à tecnologia, Grimes tem maturidade suficiente para reconhecer que nem todas as habilidades inerentes aos humanos podem ser superadas pela máquina:
"Devemos ir ao limite da criatividade. Mas acho que devemos fazer isso com muito cuidado. O que me assusta é que a AI pode remover incentivos para o aprendizado. Os LLMs são ótimos, mas talvez eu só os tivesse na escola . Isso é algo que eu quero que meus filhos tenham acesso 100% do tempo? Provavelmente não. Quero que aprendam a escrever. Estamos em meio a uma crise de alfabetização. Isso me preocupa muito. Talvez , isso me faça parecer velha. Mas ser capaz de ler e escrever bem impacta profundamente a maneira como você pensa."
Saiba mais
Confira outras edições da The Block Point que mostram como a Web3 e AI estão transformando a indústria musical
Direto ao ponto
Nesta sessão, sempre traremos os bons destaques sobre o que está acontecendo neste mercado
The Block Point
Transformando tecnologias emergentes em fonte de geração de valor para negócios. Somos uma Edtech que capacita negócios e pessoas para a nova era da internet.
Todas as quintas-feiras, às 12:12, de forma simples e fácil de ser entendida, mostraremos as infinitas e ótimas oportunidades que as tecnologias emergentes trazem.
Até quinta
Nossas edições chegam sempre por volta das 12:12 em sua caixa de entrada. Pode acontecer de você não nos encontrar em sua caixa principal… caso isso ocorra, cheque seu spam e a parte de promoções.