Reconstruindo ’The Playlist’
GM, Block Pointers. Criamos a nossa versão para a minissérie sobre o Spotify. O review será seu guia, e mostrará o contexto da história para você entender a próxima revolução desta indústria
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O milagre da música sueca
Daniel EK encontra-se na estação de trem de Rågsved, no subúrbio de Estocolmo, a caminho da Tradera, onde ele trabalhava como codificador do site, em 2004. ‘Don’t You Worry Child’ toca ao fundo.
Apesar de o hino do Swedish House Mafia ter sido lançado somente oito anos depois, a cena que abre ‘The Playlist’ fez uso da licença poética para avisar: você está na Suécia, onde nasceu o Spotify.
A minissérie da Netflix dirigida pelos suecos Per-Olav Sorensen e Hallgrim Haug conta a história da plataforma sob a perspectiva de seis personagens cruciais para a explosão do negócio de streaming.
Premeditado ou não, o enredo que mistura realidade e ficção, e é inspirado no livro “Spotify Untold”, chega às telas do maior serviço de transmissão online do mundo no momento em que uma nova revolução na indústria fonográfica está em curso.
E não entrar nesta conversa seria negligenciar uma ótima oportunidade de traçar paralelos entre a narrativa que tem ares de super produção, com as inovações que a nova internet está propondo para a música nesta próxima década.
Por isso, a The Block Point também trará a sua versão para ‘The Playlist’, dialogando com os personagens e os fatos da minissérie, inserindo-os no atual contexto criado pela tecnologia emergente.
Enquanto você assiste à produção da Netflix, as duas edições desta semana funcionarão como um super guia para melhorar a sua compreensão sobre o efeito Spotify e a conjuntura da época, e entender, de fato, o que está por vir.
Nesta primeira parte, contaremos como a plataforma foi idealizada em meio a uma guerra entre gravadoras e os serviços que disponibilizavam música pirata, e qual a relevância da Suécia para esta indústria.
‘SWEDEN MAKES MUSIC’
Logo depois de receber o aval e o dinheiro de Martin Lorentzon para viabilizar o serviço legal de streaming no mundo, Daniel EK vai até à sede da STIM (Organização de Direitos de Música Sueca) para a primeira tratativa sobre a aquisição dos direitos autorais. Com retumbante 'não’, escuta da representante:
“Somos uma Associação de Direitos Autorais. Estamos muito comprometidos com nossa relação com a indústria musical. Existimos para proteger a música, e vocês desejam iniciar um cliente de streaming.”
À primeira negativa foi adicionada uma bronca repleta de ironia de Lorentzon. O sócio investidor riu quando Daniel contou que pesquisou sobre propriedade intelectual usando o Google.
Realmente, a cobrança se justifica, considerando que o fundador do Spotify, morando em um país que está entre os três únicos exportadores de música do mundo, não conhecia a fundo o mercado e a quem procurar para instruir sobre o tema.
O Export Music mede a relação entre músicas exportadas e importadas, e apenas três nacionalidades apresentam um índice positivo.
Enquanto os Estados Unidos são o maior exportador, ganhando 4,5 dólares a cada um que pagam para importar, a Suécia aparece em segundo com uma taxa de exportação de 2,7, seguida pelo Reino Unido, que tem 2,2.
O relatório também analisou as exportações do Spotify por região, descobrindo que a música sueca é tocada principalmente na América do Norte (27% ) e na América do Sul (13%), enquanto apenas 10% das exportações suecas na plataforma foram são ouvidas nos outros países nórdicos.
Para reforçar a presença do país no top 3 global musical, Estocolmo é considerada, ao lado de Los Angeles, a capital do pop internacional.
Na primeira reunião oficial com a Sony, Daniel conversa com Per Sundin, o executivo da empresa na Suécia, no estúdio onde o ABBA gravou seus sucessos colossais a partir da década de 70.
Depois, quando o Spotify é lançado com uma super festa, um tal de Tim, que comandava o som, chama a atenção de Sundin. A antiga assistente explicou a ele que o DJ, na verdade, usava a alcunha de Avicii e despontava na cena, merecendo uma atenção especial.
ABBA, Avicii, Roxette, Zara Larsson e Swedish House Mafia estão entre os suecos famosos que alcançaram o topo das paradas mundiais. Os artistas, porém, não são os únicos expoentes locais desta indústria.
Na lista da elite global de produtores e compositores pop, existem mais de 50 suecos, com Max Martin sendo o principal deles. E eles já colaboraram com nomes como The Weeknd, Ariana Grande, Coldplay, Adele, Ed Sheeran, Justin Timberlake, Katy Perry, Taylor Swift, Selena Gomez, One Direction, Maroon 5, Pink, Britney Spears, Madonna, Ellie Goulding e Jonas Brothers.
Qual o segredo para o milagre da música sueca?
Elencamos alguns aspectos trazidos pelo portal Sweden Sverige para responder a esta pergunta:
A Suécia tem o maior número de corais per capita do mundo: 15% dos suecos cantam em coros
Os renomados compositores Max Martin e Shellback citaram a importância das escolas municipais de música e artes para o seu desenvolvimento. Por lá, os equipamentos técnicos são disponibilizados de maneira gratuita
As tecnologias dos anos 2000 fomentaram inovações para música local. Além do Spotify, o Soundcloud, com sede em Berlim, foi criado por suecos, que ainda o administram. Programadores do país também ajudaram a construir o Apple Music
E, claro, não poderíamos deixar de citar o notório e polêmico Pirate Bay. Surgida em Estocolmo, a plataforma de música pirata está no cerne do conflito com as gravadoras retratado na minissérie.
O INIMIGO A SER ANIQUILADO
Antes do primeiro dia de julgamento, Per Sundin estava apreensivo sobre os desdobramentos do processo movido pelo estado contra a Pirate Bay. A sobrevivência da Sony na Suécia dependia de uma vitória.
“É um regresso aos anos 2000 no medo e desordem de uma indústria da música em crise”.
O executivo recordava-se das demissões que foi obrigado a fazer alguns anos antes por ordem da matriz em Nova York. As gravadoras nos Estados Unidos já sentiam os efeitos da queda das vendas de CDs. E isso reverberou nos demais países imediatamente.
“Tínhamos uma indústria que faturou 200 bilhões de coroas suecas e, agora, está de joelhos graças a três pirralhos e um servidor convencidos de que as pessoas nunca mais terão de pagar por música”, esbravejava Sundin.
A Pirate Bay era uma versão do LimeWire e Napster made in Suécia movido por um ideal revolucionário. Por trás do discurso da música grátis, havia um flerte com o anarquismo.
“A alta do preço dos CDs fez isso acontecer. Ninguém quer pagar o que pode ter de graça. Quando vencermos, todos os segredos da indústria da música serão revelados e um novo ambiente pode começar”, disse um dos fundadores da plataforma no tribunal.
Em ‘The Playlist’, a dicotomia bem x mal torna-se uma batalha entre as gravadoras preocupadas com a falta de remuneração dos artistas pelo uso de suas propriedades contra geeks arruaceiros que roubavam músicas para distribuí-las sem custos.
Os personagens pró-gravadoras usam mais de uma vez a metáfora da caixa de biscoitos para mostrar como se sentiam invadidos pela pirataria: “não significa que você pode quebrar o pote e pegar o que quiser”.
Em 2010, as vendas globais totais estimadas para a música caíram entre 8% e 9%. Cerca de 95% dos downloads ainda não eram licenciados, com 19 em cada 20 sendo ilegais.
Nesta época, a formação original da Pirate Bay se desfez após a morte de um dos co-fundadores. O legado construído pela empresa, porém, abriu um caminho sem precedentes: as vendas digitais cresceram mais de 1.000% entre 2004 a 2010, e as receitas globais de música gravada caíram 31%.
Enquanto as plataformas pioneiras em oferecer música gratuita sofriam enxurradas de processos e davam os últimos suspiros, o Spotify se consolidava e preparava para assumir o controle do mercado digital.
O relatório da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) descobriu que a música digital representou 29% da receita total das empresas em 2010, 25% acima comparado ao ano anterior.
Os 750.000 clientes pagantes do Spotify validavam o novo formato de assinatura.
No total, eram 400 serviços legais de música digital existentes, com mais da metade deles concentrados na Europa.
Quando procurou soluções amistosas para uma cooperação viável com as gravadoras, Daniel EK usou o seguinte argumento:
“Não nos interessa o futuro destruir o passado. Mas vamos pegar o passado e combinar com o novo: a alma dos CDS e vinis com o que é instantâneo no digital”.
Nesta nova era de disrupção, este é o entendimento que teremos sobre a integração da Web3 na música? Será o streaming impulsionador dos produtos digitais da internet descentralizada?
Seguimos na próxima quinta em busca desta resposta, trazendo o enredo de ‘The Playlist’ para o atual momento. E iremos mostrar que a Suécia pode emplacar, quase vinte anos depois, mais uma empresa de música disposta a romper com os padrões convencionais.
TBP Convida
Para repercutir a primeira parte da nossa super edição, convidamos Matheus Omena, advogado e gestor da Mousik, a gravadora que incorpora tecnologia para promover um movimento transformador no mundo da música. Perguntamos qual a visão da empresa sobre a Web3 e como ela pode ser agregada ao mercado existente.
A integração entre o mercado musical e a Web3 é uma necessidade. O próprio desenvolvimento da indústria – que passeou do vinil ao streaming em menos de 50 anos – demonstra não apenas a sinergia, mas também a necessidade de adaptação às novas tecnologias. A razão é simples: a música é tão antiga quanto a humanidade, e precisamente por isso acompanhou a sua evolução ao longo dos tempos. Mais recentemente, o streaming teve papel fundamental na aproximação entre artistas e ouvintes ao tornar o consumo de música mais simples, amplo e democrático, em beneficio dos stakeholders.
Tecnologias como a blockchain possibilitam uma imensidão de novos caminhos e, como a história ensina, tornam indispensável que gravadoras, selos e artistas independentes estejam preparados – tecnológica, jurídica e estruturalmente – para aderir aos novos formatos criados. Os negócio digitais, inaugurados pela febre dos NFTs, são exemplos do que a blockchain e os smart contracts podem oferecer ao mercado musical.
A inovação está posta e cabe ao mercado acompanhá-la. Vantagem para aqueles que largarem na frente.
Nós também falamos com Nathália Ripoll Hamer, advogada sênior, propriedade intelectual/entretenimento das Organizações Globo e especializada em direito societário e mercado de capitais pela FGV, para saber se as gravadoras serão resistentes com a Web3, como foram com o streaming na década passada.
A Pirate Bay e diversos outros sites de torrents eram utilizados como serviços de download de arquivos que facilitavam o uso e distribuição não autorizados de músicas, em violação às leis de direitos autorais e sem qualquer pagamento de royalties. Daí a compreensível guerra travada pelas gravadoras e condenação da Pirate Bay pela corte finlandesa ao pagamento de US$ 477 mil à Federação Internacional da Indústria Fonográfica (em inglês, IFPI).
O desenvolvimento da Internet e o surgimento do MP3, tornaram inevitável a transição do mercado fonográfico à era digital.
O streaming permitiu o acesso instantâneo à música escolhida a partir do clique do usuário e a indústria da música se rendeu à revolução digital provocada pelo Spotify.
Além da preocupação com a violação de direitos autorais, o stream de música gerava incertezas quanto à sua configuração como execução pública, bem como quanto ao pagamento dos royalties de gravação ou de composição aos seus respectivos detentores de direito. No primeiro caso, às empresas que detêm o direito de comercialização da música - gravadoras ou distribuidoras, e, quanto aos royalties de composição, às editoras, sociedades de gestão e agências no território de uso.
Atualmente, está pacificado o entendimento de que há execução pública de músicas na transmissão via streaming, conforme dispõe a Lei nº 9.610/1998 (Lei de Direitos Autorais), sendo legítima, portanto, a atuação do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição – Ecad, na arrecadação e distribuição de direitos autorais neste ambiente, segundo os critérios estabelecidos no seu Regulamento de Distribuição.
Ultrapassada a resistência inicial das gravadoras, milhões de faixas foram licenciadas para centenas de serviços digitais em todo o mundo e o streaming responde por 65% das receitas globais de música gravada, segundo dados da IFPI.
Certamente as novidades trazidas pela Web3 na indústria musical desafiam o modelo centralizado das plataformas de streaming da Web2 e podem ser objeto de questionamentos por parte das gravadoras. Principalmente, pela descentralização do controle de distribuição e aplicações diversas trazidas pela blockchain, como NFTs musicais, por exemplo.
Há, contudo, gravadoras atentas à necessidade de desenvolvimento de experiências no espaço Web3. A Warner Music, por exemplo, fechou parceria com OpenSea para lançar a primeira coleção de NFTs musicais, por meio de colaboração da Warner Records UK com a empresa Web3 Probably Nothing. Os artistas musicais selecionados poderão construir novas comunidades de fãs na Web3 e, ainda, lançar suas coleções NFT e projetos de edição limitada em páginas próprias customizáveis e dedicadas.
A cada dia nos deparamos com as novas possibilidades e desafios aplicados ao sistema da blockchain. Apenas o tempo e os precedentes nos permitirão saber se a descentralização, como ideal, é também factível.
Direto ao ponto
Nesta sessão, sempre traremos alguns poucos e bons destaques sobre o que está acontecendo neste mercado
WAGMI - We’re all Going To Make It
O mantra adotado pelos entusiastas desta tecnologia que expressa boas notícias e tem conotação de que estamos juntos para fazer isso acontecer.
Afinal, conectar, democratizar, construir e pertencer a uma comunidade são os valores que irão nortear nossa jornada
Você, Block Pointer, estará dentro da maior transformação desde o surgimento da internet e nos ajudará a construir este futuro
Para isso, disponibilizamos nossa plataforma para que compartilhem suas ideias e experiências dentro da Web3.
The Block Point
Conectando entusiastas à tecnologia do futuro. Somos o agente de informação e o ponto de encontro para todos que participarão desta revolução.
Todas as terças e quintas-feiras, às 12:12, de forma simples e fácil de ser entendida, mostraremos as infinitas e ótimas oportunidades que a blockchain traz.
Até quinta
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