O dilema da AI Music on-chain
Sentadas na mina de ouro dos catálogos, gravadoras não exploram acervo enquanto tecnologia provoca aumento da responsabilidade com artistas, cada vez mais influentes. Sony anuncia primeiro vice AI
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O Top 100 da Billboard do futuro será dos criadores não convencionais
Entre 2007 e 2022, Geoff Taylor ocupou a cadeira de CEO do BPI, o órgão comercial do Reino Unido que representa os interesses das principais gravadoras do país. Neste período, a luta contra a pirataria e a fraude de streaming, além do lobby pelas questões pertinentes à indústria fonográfica local, foram as principais frentes lideradas pelo executivo.
A relevância e influência de Taylor neste segmento significaram também a chancela para sua entrada como Membro da Ordem do Império Britânico (MBE), uma honraria que reconhece as contribuições nos campos das artes e ciências.
Todos estes pré-requisitos corroboraram para que o britânico fosse escolhido pela Sony Music Entertainment (SME) para ser o seu primeiro vice-presidente executivo de inteligência artificial (AI).
Em um memorando interno de 23 de junho confirmando a chegada de Taylor à Sony, Kevin Kelleher, diretor de operações, escreveu:
“A Inteligência Artificial (IA) tem grande significado para o futuro da indústria da música e, como resultado, a atenção mais focada nela é necessária."
Caberá ao novo contratado “alinhar e ajudar a coordenar o trabalho de cada parte do negócio que envolve AI”, incluindo "as divisões globais de negócios digitais e assuntos jurídicos".
Aparentemente, o cargo inédito criado pela Sony não é só para inglês ver. As atribuições incumbidas a Taylor, e que constam no documento vazado pela mídia especializada, tocam em dois pontos centrais para o negócio de música: catálogos e distribuição dos royalties para os artistas.
"As grandes gravadoras possuem boa parte do catálogo de músicas icônicas as quais os desenvolvedores de AI, provavelmente, gostariam de ter para treinar suas ferramentas. Esta tecnologia certamente aumentará o volume da música lá fora, diminuindo a participação de mercado das gravadoras, porém elas podem aspirar parte disso protegendo seus conjuntos de dados e licenciando-os estrategicamente."
Em artigo que aborda as dúvidas das labels no espaço da AI, a insider Tatiana Cirisano resumiu precisamente o impacto mais direto da tecnologia no mercado.
E, neste momento, o boom da música criada por máquinas coincide com a corrida dos artistas para venderem seu catálogos.
"É uma espécie de mentalidade de corrida do ouro. Começou com os grandes nomes e, de repente, todo mundo está pensando 'talvez eu devesse vender também' , e os negócios estão sendo feitos o tempo todo", explicou Thomas Scherer, presidente de Repertório e Marketing da BMG, um dos principais compradores do mercado, ao portal Loudwire.
De acordo com estimativa da MBW, somente em 2021 pelo menos US$ 5,05 bilhões foram gastos em aquisições de catálogos e de direitos musicais em mais de 60 acordos.
No início deste ano, Justin Bieber fechou um acordo com a Hipgnosis considerado "um dos maiores negócios já feitos para um artista com menos de 70 anos". Embora os termos não tenham sido divulgados, a Billboard informou que o valor desembolsado pelo acervo do astro pop foi de US$ 200 milhões.
A empresa de gerenciamento de músicas fundada por Merck Mercuriadis liderou, a partir de 2018, o movimento que vislumbrou a compra dos direitos de faixas lendárias como um segmento promissor dentro desta indústria.
“O que eu queria fazer em nome de toda a comunidade de compositores é realmente estabelecer a música como uma classe de ativos e criar um mercado. Eu queria demonstrar à comunidade financeira que essas ótimas canções comprovadas têm uma renda muito previsível e confiável e, portanto, podem ser investidas", ponderou Mercuriadis.
A indústria da música não está pronta para a revolução AI
Por Stef Van Vugt (na foto), fundador e CEO da Fruits Music
Treinar uma rede neural e a capacidade de aprendizado não são lineares – mas exponenciais. Portanto, é razoável afirmar que em breve veremos a música gerada por AI se tornando uma alternativa cada vez mais econômica à criatividade humana.
Deixe-me ser claro: não pretendo ser um especialista neste campo. Mas você não precisa ser um visionário para antecipar o efeito potencial da AI nas indústrias criativas mais amplas, incluindo a música, ou para reconhecer as questões complicadas que estão começando a surgir em torno do assunto.
Não é um segredo (ou necessariamente uma coisa ruim) que os maiores artistas e marcas do mundo hoje usam co-escritores humanos, produtores fantasmas, mixers, engenheiros, A&Rs e outros profissionais para ajudá-los a traduzir suas emoções e histórias em canções para seus fãs.
Mas e se artistas e produtores pudessem treinar um sistema de AI para replicar suas emoções, histórias ou qualquer outra coisa que eles queiram criar em uma música digna de lançamento totalmente produzida, dublada, mixada e masterizada?
E se os DSPs ocidentais começassem a preencher suas próprias plataformas e listas de reprodução editoriais com música gerada por AI criada por eles mesmos? Isso deixaria ainda menos espaço para a criatividade humana ser exibida nesses serviços e daria à grande tecnologia ainda mais controle sobre o que está sendo consumido.
A ascensão da AI trará muitos benefícios e desvantagens para todos na indústria. Mas um ponto de discussão importante é óbvio: as grandes gravadoras estão sentadas no topo de uma mina de ouro de catálogo e propriedade intelectual amplamente inexplorada e sub explorada. Grande parte desse IP foi congelado sob uma geleira por quase um século.
Até agora, nenhuma empresa foi capaz de criar e comercializar em massa um catálogo original de tal escala e padrão premium que pudesse competir com as principais empresas de maneira significativa. Além disso, não vimos uma situação em que a AI seja capaz de produzir um número ilimitado de versões cover e/ou reinterpretações de músicas do catálogo – potencialmente aumentando, mas também diluindo, o valor das obras originais ao longo do tempo.
A AI está prestes a mudar tudo isso? Talvez!
Talvez cientistas de dados e mentes criativas já estejam treinando redes neurais de AI que produzirão milhares de acessos por dia. Talvez uma tecnologia como essa se torne o 'compositor' de sucesso de amanhã.
Detentoras de acervos comparados a minas de ouro, as gravadoras assumem uma maior responsabilidade com os criadores a partir da ascensão da AI. Ou pelo menos deveriam.
"Cabe às gravadoras trabalhar com plataformas que possam garantir que artistas e compositores sejam compensados de forma justa e que as receitas não fluam desproporcionalmente para as próprias gravadoras. Este não é um caminho para conquistar uma participação de mercado livre pela qual elas não precisam pagar aos criadores", lembrou Cirisano.
Compreender as novas regras do jogo torna-se vital para as gravadores, especialmente, em razão de seu monopólio ser colocado à prova. Conforme observou Cirisano, são os criadores que podem ter uma alavancagem no espaço AI.
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Quando a cantora e produtora Grimes licencia seu vocal para uso de outros artistas e máquinas, ela reforça a lógica dos direitos de publicidade: não pertence às gravadoras.
"Pela mesma razão, as gravadoras podem não ser capazes de iniciar ações judiciais com base na apropriação indevida das vozes de seus artistas - os próprios artistas precisariam fazer isso. Os contratos de gravadoras provavelmente evoluirão para incluir cláusulas relacionadas a deepfakes e outros usos de AI, e os artistas devem manter firme sua influência nessas conversas", disse Cirisano.
O poder conferido aos artistas e potencializado pela disponibilidade de ferramentas para criações permite cravar que as músicas alimentadas por AI moldarão o futuro desta indústria. Pelo menos, esta é a convicção do insider Mikey Ox.
E a sua profecia vai além: até 2030, parte significativa do Top 100 da Billboard será ocupado por criadores não convencionais que utilizam vozes de AI.
As previsões de Ox são baseadas em sua visão sobre oferta e demanda a partir das conversas e lançamentos gerados em meio ao boom da tecnologia nos últimos meses:
"Do lado da oferta, não faltam mercados consumidores impulsionados por projetos derivados de alta qualidade feitos por fãs. Esse novo gênero musical de AI tem o potencial de trazer uma nova onda de criadores talentosos que podem alcançar a fama sem a necessidade de conexões de Hollywood ou de uma personalidade típica de artista. Do lado da demanda, as músicas de Drake geradas por AI carregadas no YouTube já despertaram entusiasmo entre os consumidores, com muitos destacando especificamente a qualidade. Este é um contraste gritante com a forte expectativa usual e os longos períodos de espera associados ao lançamento de novos álbuns de artistas tradicionais."
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Por fim, acrescente o fator blockchain às projeções de Ox para decretar o início de uma era "inaugural on-chain que incorpora criatividade irrestrita de fontes não convencionais."
O que o especialista imagina acontecer em larga escala daqui uma década é baseado um case experimental divulgado no mês passado: o artista cripto nativo chamado angelbaby colaborou com WesGhost para produzir uma música usando a voz de Grimes gerada por AI, que eles lançaram posteriormente na Sound. A track vendeu 5.589 cópias em 10 de maio, gerando uma receita total de 7.045 ETH , tornando-se o terceiro drop mais comercializado na plataforma para música Web3.
"A integração da tecnologia blockchain e das faixas alimentadas por AI está levando a uma mudança transformadora na indústria da música, promovendo um ecossistema mais transparente e acessível que capacita criadores e artistas a aumentar exponencialmente a produção de música de alta qualidade", explicou Ox.
Saiba mais
A The Block Point já havia mostrado no ano passado como as tecnologias emergentes estavam criando um novo perfil de artista alavancado pela máquina pronto para invadir as paradas musicais
Direto ao ponto
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