Super Pumped 2.0: A batalha pela informação
O lançamento do app do Instagram além da degradação das redes sociais e do duelo Zuckerberg x Musk: como as tecnologias emergentes estão mudando a economia da nova internet
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O Threads está imune à enshitificação das mídias sociais?
Digitar “threads” na caixa de pesquisa do Instagram gera um ícone de uma etiqueta rosa ao lado. Imediatamente depois de clicar, surge um ticket giratório acompanhado por um contagem regressiva e uma marca que remete a um arroba estilizado, mostrando seu nome de usuário do Instagram ao lado de um horário local: 10h ET de hoje, equivalente às 11h de Brasília.
O teaser criado pela Meta para o lançamento do Instagram Threads começou a circular desde o último fim de semana na App Store.
Silenciosamente, Mark Zuckerberg preparava o anúncio do novo app tratado como concorrente do Twitter em um momento de extrema vulnerabilidade da empresa de Elon Musk, seu atual inimigo número 1.
Ainda na quarta-feira, a rede social já estava funcionando a todo vapor: foram cinco milhões de adesões apenas nas primeiras quatro horas. Depois, os números explodiram para 30 milhões 16 horas após a liberação para download.
Os usuários podem importar seus contatos do Instagram. Aqueles que entram oficialmente no Threads, estampam um selo no perfil da rede de fotos com o número relativo a sua ordem de chegada, e que também direciona para o app estreante.
“Threads é onde as comunidades se reúnem para discutir tudo, desde os tópicos de seu interesse hoje até o que será tendência amanhã”, diz a descrição do aplicativo.
O novo ninho?
As postagens podem ter até 500 caracteres e incluir vídeos de até cinco minutos
Considerando que o Instagram já tem dois bilhões de usuários ativos mensais, a contagem de usuários do Threads pode eclipsar os 330 milhões do Twitter em pouco tempo
Está disponível para iOS e Android em mais de 100 países
Quem aguarda pela luta corporal anunciada há duas semanas pelos egocêntricos bilionários, ainda não se deu conta de que a guerra fria pelo controle do fluxo de informação no mundo já teve início meses antes. E a construção do Threads, desenvolvido a partir do início deste ano, é uma das armas de Zuckerberg na tentativa de enterrar cada vez mais a cambaleante rede social rival.
A novidade, inclusive, gerou o primeiro tweet do fundador do Facebook em 11 anos.
O plano Twitter killer funcionará?
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O atual cenário demanda uma discussão muito mais ampla além da competição e do choque de ego dos ícones intocáveis criados pelo Vale do Silício.
Não pode ser apenas uma mera coincidência a saturação do modelo imposto pela ditadura algorítmica, e que conferiu amplo poder às redes sociais, ficar mais evidente em meio à ascensão de um novo momento para a internet e suas bandeiras sobre descentralização e usuários no centro.
Sim, você tem visto com recorrência esta pauta nos últimos meses na The Block Point. E não é por acaso.
Agora com o Threads oficialmente apresentado, quais serão os desdobramentos no contexto do movimento que coloca em xeque o papel das plataformas intermediárias?
O aplicativo de conversação baseado em texto está integrado ao protocolo de mídia social descentralizado usado pelo Mastodon, chamado ActivityPub.
A possibilidade de importação de contatos entre Instagram e Threads foi permitida por causa da interoperabilidade entre as redes pertencentes à Meta.
E este é um dos princípios das mídias descentralizadas que estão surgindo: usuários têm a custódia e seguem pessoas, e não plataformas. O fediverso mencionado no tutorial segue esta lógica.
Isso não significa, necessariamente, que a Meta está inclinando-se para um política amigável e flexível relacionada aos dados dos usuários.
Em ataque à notícia sobre o lançamento do Threads, Elon Musk respondeu a um punhado de tweets que apontavam sobre a quantidade de informações possíveis de serem coletadas pela listagem da App Store para o Threads:
“Graças a Deus eles são administrados com tanta sanidade”
Esta foi a ironia proferida por Musk ao comentário feito Jack Dorsey, ex-CEO do Twitter:
“Todos os seus Threads pertencem a nós”
De acordo com a listagem da loja, o aplicativo existente do Instagram já vincula os mesmos dados ao dono da conta.
Para quem viu Super Pumped - A Batalha pela Uber, e que inspirou o título para esta edição, irá recordar-se de quando Travis Kalanick é convocado para uma reunião com Tim Cook no QG da Apple. O CEO da Maçã queria ouvir as explicações do fundador do app de viagens sobre por que ele estava burlando a rigorosa (?) Política de Privacidade da empresa. O afronta de TK seria um dos episódios derradeiros para sua queda depois.
Em uma outra conjuntura distante da série inspirada pelo livro do jornalista Mike Isaac, a obsessão pelos dados, agora, está no cerne da mais recente crise do Twitter.
Na semana passada, a rede impediu que usuários não registrados pudessem ver tweets e estipulou limites temporários de leitura. Isso significa que as contas verificadas poderão visualizar até seis mil posts por dia, enquanto as não verificadas apenas 600.
De acordo com a The Verge, a empresa de Musk também está lançando repentinamente grandes mudanças no TweetDeck, uma ferramenta usada por jornalistas e profissionais de mídia social.
Há uma guerra do magnata contra os raspadores de dados que buscam informações para alimentar modelos de inteligência artificial (AI). Em cerca de um mês, o recurso está programado para se tornar pago.
O conflito Zuckerberg x Musk e os mais novos episódios escancaram o colapso das redes sociais, e deflagram outros dois processos que têm as tecnologias emergentes como agentes de causa/efeito.
O primeiro deles é o que o analista sobre mídia e internet Mike Grindle define como enshitificação:
"Feeds cheios de amigos e comunidades são substituídos por anúncios, conteúdo polêmico e patrocínios. As APIs são cobradas para os desenvolvedores terceirizados cujo trabalho árduo trouxe os usuários ao serviço em primeiro lugar, forçando-os a usarem aplicativos padrão. O serviço gratuito básico fica bloqueado atrás de um paywall 'premium' ou 'marcado em azul'. E isso não quer dizer nada de toda a coleta excessiva de dados."
A ótima expressão usada para traduzir a degradação das plataformas online foi trazida, em março, em um artigo publicado por John Naughton no The Guardian. O colunista deu os créditos a Cory Doctorow, a quem ele chama de "o grande crítico de tecnologia".
Resumidamente, o termo pode ser explicado desta maneira:
"A enshitificação resulta da convergência de duas coisas: o poder dos proprietários de plataformas de mudar a forma como elas extraem valor dos usuários e a natureza dos mercados de dois lados – onde as plataformas ficam entre compradores e vendedores, mantendo cada um refém do outro e, em seguida, arrecadando uma parcela cada vez maior do valor que passa entre eles."
Para mostrar como funciona na prática o procedimento, Naughton enumerou três regras:
1- A primeira determinação para qualquer empreendimento on-line é adquirir um grande número de usuários rapidamente para que você possa aproveitar o poder dos efeitos de rede para mantê-los dentro de seu jardim murado. Você faz isso oferecendo serviços “gratuitos” (Google, Facebook , Twitter, YouTube, Instagram) ou preços reduzidos deficitários (Amazon)
2-Segundo passo: depois de prendê-los, você os transforma em um mercado cativo para seus clientes reais, que são os anunciantes e fornecedores
3-E uma vez que você os tenha bloqueado (Regra Três), você está em um mercado de vendedores - e tem uma licença para imprimir dinheiro
É improvável que as plataformas sociais descentralizadas substituam os gigantes da mídia social, mas atualmente oferecem um refúgio ao processo de enshitificação, conforme lembrou Grindle.
E, talvez, seja esta opção que a Meta deseja testar com o Instagram Threads. Será?
O segundo modo que impacta diretamente o atual formato das redes sociais tem a inteligência artificial como protagonista.
"Os modelos generativos de AI estão mudando a economia da web, barateando a geração de conteúdo de qualidade inferior. Estamos apenas começando a ver os efeitos dessas mudanças."
Baseado nesta prerrogativa, James Vincent, repórter que cobriu AI e robótica pelo The Verge, decreta que a inteligência das máquinas "está matando a velha web, enquanto uma nova luta para nascer."
Episódios citados por ele, alguns dos quais já foram mostrados pela TBP recentemente, endossam os presságios:
✔ O Google está tentando eliminar os dez links azuis
✔ O Twitter está sendo abandonado para bots e carrapatos azuis
✔ Há a junkificação da Amazon e a enshitificação do TikTok
✔ As demissões estão acabando com a mídia online
✔ Um anúncio de emprego à procura de um “editor de AI” espera “produção de 200 a 250 artigos por semana”
✔ O ChatGPT está sendo usado para gerar sites de spam inteiros
✔ Esperança do Snapchat e do Instagram, os bots falarão com você quando seus amigos não estiverem presentes
✔ O LinkedIn está usando AI para estimular usuários cansados
✔ Redditors estão encenando apagões
"A web está sempre morrendo, é claro; está morrendo há anos por aplicativos que desviam o tráfego de sites ou algoritmos que recompensam o suposto encurtamento do tempo de atenção. Mas em 2023, está morrendo de novo – e, como sugere a ladainha acima, há um novo catalisador em ação: AI."
Apesar de soar como radical, a posição de Vincent é baseada na continuação da rápida alavancagem que solidificou o monopólio e relevância das atuais plataformas. Para o especialista, com dinheiro e computação, os sistemas de AI, particularmente os modelos generativos atualmente em voga, escalam sem esforço.
Ou seja, eles criam texto e imagens em abundância, assim como músicas e vídeos. A produção, segundo ele, pode ultrapassar ou superar as plataformas das quais dependemos para notícias, informações e entretenimento. E qual o contraponto?
"A qualidade desses sistemas geralmente é ruim e eles são construídos de uma forma que são parasitas na web hoje. Esses modelos são treinados em estratos de dados estabelecidos durante a última era da web, que eles recriam imperfeitamente. As empresas extraem informações da web aberta e as refinam em conteúdo gerado por máquina que é barato de criar, mas menos confiável. Este produto então compete por atenção com as plataformas e pessoas que vieram antes deles."
No fim, estamos presos à enshitificação? Seremos reféns dos conteúdos gerados exclusivamente pelas máquinas?
Para a primeira pergunta, John Naughton espera que usuários e consumidores se rebelem cada vez mais que o processo tornar-se repulsivo. E o hate ao Twitter nos últimos dias pode ser um indicador deste sentimento.
Sobre a AI e sua dinâmica de produzir conteúdo barato com base no trabalho de terceiros, ainda demandará melhores entendimentos, especialmente regulatórios, para que possamos compreender qual é a guerra que iremos comprar.
"Essencialmente, esta é uma batalha pela informação – sobre quem a produz, como você a acessa e quem é pago. Mas só porque a luta é familiar não significa que não importa, nem garante que o sistema a seguir será melhor do que o que temos agora. A nova web está lutando para nascer, e as decisões que tomamos agora moldarão como ela crescerá", avisou Vincent.
Saiba mais
A The Block Point tem mostrado detalhadamente a crise da mídia e o colapso das redes sociais, e como as tecnologias emergentes trazem novas possibilidades que contribuirão para consolidar a nova era da internet. Confira outros conteúdos sobre o tema
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