Um ponto de inflexão prestes a explodir em Hollywood
Barbie e Oppenheimer lembram que cinema não gera mais momentos culturais emblemáticos. Crise provocada por looping do conteúdo infinito, streaming e AI é sinal de que a hora do reset chegou
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A década da disrupção da criação de conteúdo
Em Matrix, há um momento em que Neo (Keanu Reeves) perambula pelas ruas, esbarrando nas pessoas, até se entreter com uma mulher de vestido de vermelho, e descobrir que nada daquilo era real.
A revista Times resgatou a cena para comparar as simulações da clássica produção futurística dos anos 90 com a “proposta inovadora de AI” envolvendo o “uso de réplicas digitais ou… alterações digitais de uma performance” anunciada pelos produtores de Hollywood, e que desencadeou um novo motim no epicentro da indústria cinematográfica, envolvendo, agora, o Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists (SAG-AFTRA).
Ao expor a opinião de cineastas que condenam a incursão AI de Hollywood, a reportagem externa até mesmo a preocupação da corrente a favor da tecnologia:
"Mas mesmo os especialistas em AI, que acreditam que a tecnologia acabará sendo um bem líquido para criadores e trabalhadores do cinema, dizem que substituir atores de fundo por AI é uma má ideia."
A greve dos atores está em curso desde o último dia 14. As duas semanas de protestos são somadas aos quase três meses de paralizações do Writers Guild of America (WGA), que começaram suas manifestações em 2 de maio.
Em meio à maior interrupção na produção de TV e cinema desde a Covid-19, uma outra Hollywood surfa o marketing colossal de Barbie e Oppenheimer. A dicotomia da sua maior crise da década compartilha espaço com o frisson provocado pela nostalgia da Barbie infantil e da criação da bomba nuclear.
E, claro, faz as contas da maior bilheteria do ano registrada no último fim de semana graças ao money pink gerado pelo hype da boneca revivida por Margot Robbie.
Barbenheimer na crista da onda
Os dois filmes geraram o quarto maior fim de semana doméstico de bilheteria, com $ 311,1 milhões
É a primeira vez que dois filmes arrecadam mais de US$ 80 milhões cada nos Estados Unidos simultaneamente
E os filmes alimentaram um ao outro, não apenas como um fenômeno online, mas também porque 6% do público de Oppenheimer o viu depois que Barbie esgotou , de acordo com o The Quorum.
Juntos, eles representaram US$ 511 milhões em receita em todo o mundo
MAIS BARBENHEIMER CROSSOVER: Barbie gerada por AI constrói a bomba atômica de Oppenheimer. Confira como ficou o ensaio
Enquanto a inovação é encarada como uma ameaça aos empregos criativos, e entra na esteira de queixas dos grevistas, acompanhando as críticas ríspidas ao streaming, os dois lançamentos do último fim de semana trazem uma reflexão: chegou o momento de um reset em Hollywood? Para a analista de tendências culturais Hanna Kahlert, sim:
"O cinema e a TV perderam a capacidade de hospedar momentos culturais devido à sua onipresença no streaming. Oferecendo, talvez, os temas mais convincentes possíveis, em estreias de cinema muito badaladas com uma escassez de outros conteúdos competindo por atenção a seguir, poderia levar a indústria do vídeo de volta a um lugar de escassez curada."
Na visão de Kahlert, a explosão do volume de produção de entretenimento diluiu o valor individual de qualquer música, criador ou mesmo franquia. E a ascensão da AI só agravará o problema da remuneração do criador, que está em declínio, e da saturação do conteúdo, em franca expansão.
Conforme explicou o especialista em mídia ex Turner/WarnerMedia, Doug Shapiro, assim como a última década no setor de TV e cinema foi definida pela "disrupção da distribuição de conteúdo", os próximos dez anos serão determinados pela "disrupção da criação de conteúdo."
"A ideia de que a AI terá um efeito significativo na produção de TV e filmes nos próximos anos passou de ideia marginal a consenso, muito rápido", ponderou Shapiro.
A quantidade infinita de conteúdo do vídeo social (ou conteúdo gerado pelo usuário)
O YouTube tem 2,6 bilhões de usuários globais e aproximadamente 100 milhões de canais que enviam 30.000 horas de conteúdo a cada hora. Isso equivale a toda biblioteca de conteúdo doméstico da Netflix
O TikTok tem 1,8 bilhão de usuários. E embora não se sabe oficialmente quantas horas de conteúdo existam nele, 83% do público é um creator
Seguindo a ideia do reinício para um novo formato, como sugere Kahlert, o especialista questiona como será a ruptura de Hollywood, baseando-se em quatro constatações:
O vídeo social já está destruindo Hollywood, mas novas ferramentas de produção prometem jogar gasolina no fogo
Os experimentos iniciais com vídeo de AI são ruins, mas é assim que a disrupção funciona
São ferramentas que tornam as pessoas mais produtivas, e não robôs fazendo filmes
Essas ferramentas podem beneficiar Hollywood, mas provavelmente irão prejudicar mais do que ajudar
"Hollywood dificilmente está morta, mas corre o risco de se retirar para uma versão menor de si mesma", avisou.
O recurso pré AI
Trecho da reportagem "Even AI Filmmakers Think Hollywood’s AI Proposal Is Dangerous", do Times
Antes que as ferramentas de AI estivessem disponíveis, os artistas de Hollywood usavam CGI – ou técnicas tradicionais de computação gráfica – para mudar a aparência dos atores.
Carrie Fisher, que morreu em 2016, apareceu postumamente como Princesa Leia em filmes subsequentes de Star Wars, graças a equipes especializadas em efeitos visuais, que realizaram magia digital em imagens de arquivo do falecido ator.
Mais recentemente, The Flash continha cenas com o Superman de Christopher Reeve, que foi retratado por meio de uma mistura semelhante entre filme e tecnologia.
Os processos de AI, que exigem menos intervenção humana do que as técnicas de CGI, porém, estão se tornando mais baratos e mais amplamente disponíveis, diz Nikola Todorovic, CEO e cofundador da Wonder Dynamics.
“Com Carrie Fisher, tinha que ser um estúdio VFX, que colocou um grande orçamento e milhares de artistas por trás disso”, diz ele. “Antes, era mais caro fazer do que contratar um ator. Agora, é mais barato."
A competição entre Barbie e Oppenheimer pelo momento icônico do verão no hemisfério norte, deflagra também uma outra questão: o ponto de virada do cinema e da sua propriedade intelectual (IP).
"Este poderia ser um movimento bem calculado de Hollywood. No entanto, também pode ser considerado por alguns como uma 'raspagem do barril', em termos de IP. Veja a Marvel, por exemplo: a franquia agora gera rapidamente tantas novas produções que dificilmente tem mais uma onda cultural (o mesmo com Star Wars). Por outro lado, existem programas excêntricos da Netflix que atingem o status viral temporário antes de morrer - e não há muito no meio", disse Kahlert.
A especialista lembra que a Mattel já está planejando uma sequência para Barbie com uma lista baseada em seu IP, incluindo um sobre Polly Pocket.
"Da mesma forma, embora Oppenheimer possa ser sombrio e contundente, é do mesmo tipo que o aclamado Chernobyl ou Tinker Tailor Soldier Spy. Quase tudo que chega aos cinemas é uma franquia, um remake, uma sequência ou um meme (querendo ou não) . E onde estão os ingredientes aqui para algo novo e culturalmente impactante?", critica Kahlert.
A postura de Hollywood sinaliza, para a especialista, que o vídeo parece interessado em seguir o modelo de streaming de música, com uma grande maioria de produções de baixo custo destinadas ao segundo plano, e alguns grandes sucessos para manter a relevância cultural:
"Os esforços para combater isso significam se inclinar mais para o fandom, tanto de nicho quanto de mainstream; construir ecossistemas IP que englobam jogos, vídeo e música; e construindo franquias já existentes (de Marvel e Star Wars a Game of Thrones e Senhor dos Anéis) ou produzindo infinitas sequências como apostas seguras para atrair o público e, com sorte, aumentar sua afinidade sentimental."
Shapiro, por sua vez, lembra que Hollywood é muito preciosa em relação ao seu IP, e a ideia de fornecer acesso à população em geral pode soar como heresia.
A VOZ DO POVO: Barbie , Oppenheimer, até Sound of Freedom: o público não anseia por IP. Eles Querem Originalidade
Uma relutância que confronta as premissas da descentralização carregadas pela nova internet, e são apontadas por Michael Casey, da CoinDesk, como uma solução para o cinema. Logo quando a greve dos artistas estourou, ele escreveu um artigo em que explica por que a atual economia não funciona mais para atores e escritores:
"Os NFTs são um alicerce para um sistema mais centrado no criador, pois recriam, no mundo digital, a relação direta de propriedade ponto a ponto que fãs e artistas costumavam ter com LPs, livros, filmes e assim por diante.Apesar de todo o hype, bolhas e esperanças estouradas do mercado nos últimos três anos, esta inovação contém um avanço inegável: a criação de ativos digitais únicos e uma construção que era impossível em tudo -pode-ser-replicado que a precedeu."
Sem qualquer previsão de trégua, os protestos em Hollywood continuarão alimentando as discussões sobre o futuro desta indústria, e como ela lidará com as tecnologias emergentes que chegam a galope. O desfecho, por ora, pode ser desconhecido, porém há uma certeza bancada por Kahlert:
"O cinema está em um ponto de inflexão cultural; o que subiu por tanto tempo agora deve cair, de uma forma ou de outra."
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