Disney's House of Apple
Companhia coloca placa à venda nos negócios de TV e alimenta rumores sobre aquisição pela big tech. Os movimentos rumo ao conteúdo tridimensional mais imersivo reforçam uma eventual integração
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A propriedade intelectual 3D e o futuro da tecnologia para a mídia e o entretenimento
Os episódios derradeiros da terceira temporada de Succession nos mostram as investidas mais agressivas da Waystar Royco para incorporar outras empresas ao seu conglomerado de mídia e entretenimento.
Em uma das reuniões com acionistas, Logan, mais ponderado e sem estar possuído pelos corriqueiros ataques de ira, manda o recado carregado com sua, digamos, franqueza sem filtro:
"Os anúncios cortaram nossas gargantas por 20 anos. E estamos sangrando. Se tivermos mais um corte sequer, vamos morrer no carpete da sala."
Quando a compra da rival Pierce volta à pauta, Siobhan, a filha do patriarca da família Roy, demonstra contrariedade, lembrando que a "nossa plataforma de streaming é uma mer$%", e a entrada nos esportes, apostas e mídias sociais foi uma "janela aberta" que não poderia ser perdida.
Então Roman, irmão e um dos rivais de Shiv na disputa pelo trono, confirma seu momento de maior influência e prestígio com o pai, apoiando a integração da Matsson. O caçula surpreende a todos na mesa, expondo sua visão de futuro para a Waystar:
"O futuro é cinema, TV, música, jogos, esportes, e-sports, VR, AR, apostas, tudo. Para todos. Matsson sabe fazer isso."
Por trás da narrativa endinheirada, egocentrista e repleta de armações e traições sobre o clã familiar Roy, existe a história paralela da crise da mídia. E na visão do experiente e calejado Logan, as aquisições seriam a válvula de segurança para a manutenção do império.
Como bem frisou Roman antes do seu devaneio futurístico, fusão é um estado de espírito. E trazendo a perspectiva da ficção para a realidade factual da última semana, uma eventual associação da Disney à Apple seria muito mais do que uma mera disposição emocional.
Sim, por mais chocante que seja esta possibilidade, ela voltou a ganhar coro nos bastidores depois dos recados sutis enviados por Bob Iger durante o Allen & Co. Sun Valley Conference, no mês passado.
Iger apareceu na televisão e pendurou uma placa de possivelmente à venda nos negócios de TV da Disney. Quando ele começa a se desfazer de bens, parece que está preparando o terreno. E claramente não há comprador como a Apple.
As opiniões de Kim Masters e Alex Weprin para o The Hollywood Reporter são balizadas por argumentos como: a possível negociação dos ativos de TV linear, incluindo a rede de transmissão ABC e suas oito estações de TV locais, bem como canais a cabo como Freeform e National Geographic, ajudam a explicar a reaproximação de Iger com os ex-executivos da Disney, Kevin Mayer e Tom Staggs, ambos preteridos como CEO e, que agora, voltaram à companhia.
Pessoas de Hollywood, segundo a reportagem, têm antecipado um futuro em que o rebanho do estúdio continuará diminuindo dramaticamente. Um observador experiente prevê que a Disney “carregará esses ativos com dívidas e venderá para private equity”. Ele acredita que as propriedades, que devem gerar US$ 7 bilhões por ano em lucros, seriam comercializadas por US$ 50 bilhões.
“Existirão três ou quatro plataformas e todas as outras serão esvaziadas e adquiridas. Teremos Apple, Amazon, Netflix e um outro. Se você pudesse juntar NBCUniversal, Warners e Paramount, provavelmente teria o suficiente para sobreviver", diz um veterano do setor.
As especulações embasadas por teorias convincentes sobre a venda da Disney também são monitoradas por Wall Street. A analista da Needham & Co. Laura Martin previu há algum tempo que a gigante de entretenimento “será comprada durante os próximos três anos”, observando que os prêmios de aquisição para empresas de mídia geralmente estão na faixa de 30 a 40%.
A Apple não comprará a Disney, não importa quantas vezes ouça isso
Trecho do artigo escrito por William Gallagher e Mike Wuerthele para o Apple Insider (10/8)
É verdade que durante esses três anos, Bob Iger disse haver um ponto em que uma fusão entre a Disney e a Apple poderia ter "chegado lá".
Mas você precisa se lembrar que Iger disse isso quando Steve Jobs estava vivo. Muito especificamente, os dois homens nunca haviam falado sobre um acordo.
Isso aparentemente não é um detalhe importante. Pelo menos, não se você for um analista financeiro que conhece o verdadeiro valor de um bom título.
É exatamente a isso que se resume essa alegação de que a Apple comprou a Disney. São as estatísticas e a análise financeira de quanta atenção você consegue ao dizer que vai acontecer.
No momento, a capitalização de mercado da Walt Disney Co é de US$ 175,4 bilhões. A Apple tem reservas de caixa de cerca de US$ 200 bilhões, de acordo com a empresa. Portanto, no papel, ela tem dinheiro para comprar a Disney, seja ou não sensato reduzir tanto suas reservas de caixa. Na prática, porém, não custaria à Apple US$ 175,4 bilhões para comprar a Disney, seria mais.
Há também o fato ligeiramente significativo de que a Disney não tem motivos reais para querer ser vendida. As empresas podem ser pressionadas a uma venda pelos acionistas, mas, no geral, a companhia está indo bem quando vista como um todo.
A Disney ainda não está em uma posição fraca o suficiente para torná-la uma barganha para a Apple.
Por que a Apple comprará a Disney
Trecho do artigo escrito por Ted Gioia (14/8)
As pessoas têm previsto que a Apple comprará a Disney nos últimos 20 anos. Já ouvi o boato inúmeras vezes. Portanto, nunca levei essa previsão a sério, até agora. Mas desta vez é para valer.
Claro, Steve Jobs nunca teria feito esse negócio. E isso é especialmente irônico, quando você considera que Jobs era o maior acionista da Disney na época de sua morte.
Jobs conseguiu todas essas ações quando vendeu a Pixar para a Disney por US$ 7,4 bilhões em 2006. Ele recebeu seu pagamento em ações da Disney — obtendo 2,3 ações da Disney para cada ação que possuía da Pixar. No final do dia, Steve Jobs saiu dessa transação com 138 milhões de ações da Disney no bolso de trás.
Nos cinco anos seguintes, Jobs teve muitas chances de considerar uma aquisição da Disney. A Apple não apenas tinha cerca de US$ 30 bilhões em dinheiro e poder de empréstimo quase ilimitado, mas Jobs poderia até ter liderado uma compra da Disney como indivíduo. A capitalização de mercado da Disney era de cerca de US$ 65 bilhões na época, e muitas firmas de investimento teriam trabalhado com ele de bom grado em um acordo para fechar o capital da empresa.
Durante os últimos cinco anos de sua vida, Steve Jobs aumentou as receitas da Apple a uma taxa composta de 44% ao ano... Este ano, as receitas realmente encolherão.
A Disney está com um preço atrativo agora? Não tenho tanta certeza disso. Mas acho que a Apple ficará tentada a morder.
Tim Cook, o atual CEO da Apple, não é nenhum Steve Jobs. Mais de uma década após a morte deste último, Cook ainda está explorando a última inovação de Jobs, o iPhone.
Mas agora a Apple parou de crescer (novamente). Você provavelmente achará isso surpreendente, porque esta empresa é retratada como invencível na mídia. E esta maçã está começando a ficar marrom e mole.
Lembram-se de quando Roman, em Succession, falou sobre os próximos passos da Waystar, e citou realidade virtual (VR) e aumentada (AR)? Este é o ponto que a The Block Point irá explorar sobre o que representaria uma aquisição da Disney pela Apple.
A escolha por esta abordagem é motivada pela pergunta feita por Rex Woodbury: o futuro da tecnologia se parece muito com... Pixar?
Para o investidor e sócio da Index Ventures, à medida que o mundo se move para um conteúdo tridimensional mais imersivo, faz sentido que o caminho a seguir seja pavimentado com tijolos estabelecidos pelas três décadas de animação por computador de ponta da Pixar.
E por que o famoso estúdio de animação americano é a referência?
O especialista nos lembra que a tecnologia mais famosa da Pixar, RenderMan, tornou-se o padrão da indústria de Hollywood para renderização e o primeiro produto de software a ganhar um Oscar. Ela está disponível como um item comercial licenciado para terceiros.
O T-1000 de metal líquido em Terminator 2, os dinossauros em Jurassic Park e Gollum em O Senhor dos Anéis devem suas vidas ao RenderMan.
"Cada filme da Pixar trouxe novos desafios e inovações em animação por computador. E a sua tecnologia 3D fortalecerá a camada de aplicativos do Vision Pro", destacou Woodbury.
O gadget mencionado é o óculos de realidade mista (XR) que combina VR e AR lançado pela Apple, em junho. Na ocasião, a Maçã surpreendeu o mercado, anunciando o Vision Pro como o disruptor do que ela está chamando de a era da computação espacial.
A projeção de Woodbury é confirmada por uma outra previsão trazida por Yulia Lápicus. De acordo com a design de produto, especialistas preveem que em até dez anos o design digital 3D se tornará tão comumente usado quanto o 2D:
"A transição para VR/AR nos desafia a repensar os paradigmas de design fundamentais que foram enraizados em 2D. Por exemplo, como devemos projetar interações quando o corpo se torna o novo mouse ou o ambiente ao nosso redor se torna parte de nossa interface de usuário?"
A Disney já nos deu esta resposta, quando exibiu o Mickey Mouse caminhando em meio a elementos virtuais da Disney World, dividindo espaço com o Universo Marvel. O vídeo de exibição lançado em junho era uma demonstração de como a empresa imagina seus conteúdos para o Vision Pro: um recurso de cinema que permite aos usuários projetar filmes e programas de TV em uma tela virtual gigante.
Diferentemente de todos os outros dispositivos do mercado, o modelo da Apple é controlado inteiramente pela voz, movimento dos olhos e mãos do usuário, dispensando o uso de controles físicos
"Assim como a fotografia, a editoração eletrônica e a Internet se tornaram onipresentes, a expectativa é que as ferramentas e os serviços de design 3D se tornem difundidos e fáceis de usar", explicou Lápicus.
E para completar o terceiro elo de ligação entre Apple e Disney depois do 3D e o Vision Pro, é inevitável não mencionar a propriedade intelectual (IP).
Ao longo dos últimos vinte anos, a companhia transformou a House of Mouse no lar de algumas das maiores franquias e IPs do planeta.
📸 O MAPA DO IMPÉRIO: Todas as empresas de propriedade da Disney
Em abril, Christine McCarthy, vice-presidente executiva sênior e diretora financeira, anunciou que a Disney continuaria a se concentrar na propriedade intelectual existente para novos investimentos em parques.
O discurso respaldava o entendimento do ex-CEO Bob Chapek, que enxergava uma integração muito mais próxima do Disney+ e dos parques temáticos da empresa.
Sob a nova gestão de Bob Iger, que assumiu o lugar de Chapek em outubro do ano passado, as receitas de Parks & Experiences aumentaram 13% ( US$ 8,3 bilhões). Cerca de um terço das vendas da Disney foi impulsionada por parques internacionais e linhas de cruzeiros, em meio ao corte de despesas que está no caminho de exceder US$ 5,5 bilhões em economia de custos antecipada.
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E a integração do Vision Pro ao portfólio de produtos, indica que a empresa compreendeu como a transformação digital está mudando o IP de entretenimento.
"Até agora, o IP de entretenimento serviu principalmente como um produto, algo a ser consumido. Mas a maré está mudando, dando início a um futuro em que o IP não servirá apenas como um produto, porém evoluirá para uma plataforma de infinitas possibilidades criativas", ponderou o insider Martin Berg.
Os problemas das grandes empresas de mídia (Disney, Fox, NBC Universal, Paramount e WarnerBros. Discovery) foram bem documentados em uma reportagem do NY Times em 15 de julho: a TV linear está em declínio, o streaming não provou ser a panacéia mais esperada, a bilheteria é fraca e o ambiente do publicidade é morno. As duas greves estão em andamento, tanto a WGA quanto a SAG-AFTRA, dão poucos sinais de que serão resolvidas em breve.
"Os investidores estão pessimistas, a imprensa é brutal e o moral em Hollywood está cada vez mais sombrio."
A lista dos problemas elencados ganharam uma pitada de ironia do analista Doug Shapiro, que pergunta: em outras palavras, a grande mídia pode crescer e, em caso afirmativo, como?
Uma das possibilidades aventadas inclui a Apple e seu Vision Pro sendo impulsionado pela plataforma de IPs da Disney:
"Em um cenário, é pouco mais do que uma nova maneira legal de assistir a filmes. Em outro, é o catalisador do metaverso que acabamos de discutir. Uma terceira possibilidade é que se torne uma nova modalidade de consumo de entretenimento de novas formas, como mostrou o CEO da Disney, Bob Iger."
O aparato da Maçã, portanto, seria o prenúncio de uma nova maneira para monetizar o acervo gigantesco da biblioteca da mídia?
"Talvez! Na melhor das hipóteses, isso não se aplicaria apenas ao conteúdo recém-criado. A tecnologia NeRF (campo de radiância neural ) permite a criação de imagens 3D a partir de imagens 2D, aumentando a possibilidade de que um dia todos os filmes existentes possam ser convertidos em vídeo 3D volumétrico. Isso permitiria que os espectadores assistissem a um filme ou programa de TV de qualquer ângulo, inclusive dentro da própria ação", projeta Shapiro.
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