Scratch The Record
GM, Block Pointers. Modus operandi do negócio de streaming deflagrou conflito com artistas, de estrelas a uma maioria independente. Como a Web3 pode pacificar e dar novo rumo a esta indústria?
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A voz que representa o mundo real e da ficção
Após mais uma noite de shows em um pub de Estocolmo, Bobbie T. recebe apenas metade do pagamento combinado. O dono do estabelecimento argumenta que ali é a oportunidade para ela se mostrar.
“Depois as pessoas vão fazer streams da sua música. É ótimo para você”.
Enquanto a cantora absorve a frustração, a cena muda bruscamente para Daniel EK. O fundador do Spotify já ostentava o título de magnata da música global, e estava adicionando ‘My Kind Of Woman’ na sua lista de favoritas.
O soul em forma de baladinha pop viciante é a música mais tocada nas apresentações de Bobbie T e que proporcionou um contrato com a Sony logo no início de ‘The Playlist’.
O episódio derradeiro nos leva até o ano de 2024, e mostra a cantora que acumulou seis álbuns em uma década escanteada pela gravadora.
Em um momento de decepção e inconformismo, Bobbie T vai para o Instagram desabafar.
“Minhas músicas tocam 200 mil vez por mês no Spotify, mas ainda não consigo pagar meu aluguel. Faço trabalhos paralelos e shows extras, tudo pelo privilégio de fazer música. As gravadoras ganham mais dinheiro do que antes da pirataria. Enquanto os artistas que criam músicas para as plataformas, mal conseguem sobreviver.”
O vídeo gerou 12 mil compartilhamentos nas primeiras 24 horas, e foi determinante para colocar a cantora na liderança do movimento global Scratch The Record.
Bobbie T, agora, era a voz de milhares pequenos artistas que lutavam contra a tecnologia que mudou os rumos da indústria da música nos anos 2000.
“O artistas não podem arriscar sair por causa da exposição. O Spotify controla o streaming e, logo, o destino dos músicas. Queremos uma lei que nos proteja. Streaming é exploração”.
Qualquer semelhança com o rompimento pontual entre Taylor Swift e o Spotify na vida real não é mera coincidência. Este fato, inclusive, também é retratado na produção.
Na tentativa de reconciliação com a plataforma, o agente da super estrela diz a Daniel EK e Martin Lorentzon que a cantora era responsável por um a cada 20 streams da plataforma. Apenas Swift, gerava uma receita mensal de US$ 500 mil:
“Não é mais 2006. Vocês não são punks nerds nos que assustam. Estamos em 2014.”
Lorentzon, por sua vez, tripudiou e entregou uma folha em branco ao empresário, insinuando que isso representaria os ganhos dele e da cantora caso a pirataria retornasse.
Criar a personagem de Bobbie T. e dedicar um episódio só a ela, era ir além da realidade dos artistas consagrados, como Swift, e expor as falhas no modelo de negócio das plataformas de streaming para uma grande maioria que não tem acesso à máquina da indústria: a remuneração média do Spotify é de US$ 12/mês, e 70% da receita gerada pelos streams vai para as gravadoras.
“A Playlist é, em sua essência, uma história sobre música. Retratar na ficção como o Spotify mudou a indústria da música é impossível sem a perspectiva dos artistas, e nossa personagem Bobbie T está representando suas vozes nesta história. Janice assumiu brilhantemente esse papel com autenticidade e paixão”, destacou Per-Olav Sørensen, diretor da minissérie.
A musicista de ‘The Playlist’ é interpretada por Janice Kamya, uma cantora independente que também está trilhando um caminho semelhante ao da sua personagem.
Todas as três faixas tocadas por Bobbie T foram produzidas especialmente para a minissérie, e lançadas através da PIAS, uma distribuidora independente que atende artistas e gravadoras da Europa.
Janice também tem contrato assinado com a Global Ensemble, uma gravadora que alça jovens talentos ao mercado.
Com os holofotes apontados em sua direção, a cantora de 28 anos estampou a capa da ELLE Sverige e ganhou destaque na Vogue Escandinávia no mês passado, onde trouxe sua visão sobre o Spotify.
“O Spotify pode realmente mudar a vida e a carreira de alguém, mas é meio triste que agora seja muito sobre os números e em qual playlist você está… pode perder a verdadeira essência da música. Para mim, música é dar luz, esperança e força, a alguém ou alguma coisa. Portanto, pode ser difícil navegar como artista.”
E existe um mar onde os artistas independentes possam navegar em calmaria?
O NOVO MILAGRE DA MÚSICA SUECA NA ERA DESCENTRALIZADA
Enquanto estudava economia na Stockholm School of Economics, Filip Strömsten produzia de maneira independente desde os 19 anos. Na época, ele teve a oportunidade de assinar com uma gravadora, mas logo percebeu que havia um desequilíbrio na indústria da música para artistas emergentes.
No ano passado, antes de concluir a graduação, ele se juntou a Michel D. Traore e Sebastian Ljungberg para trazer um novo modelo de negócio para o mercado musical por meio da nova tecnologia.
A Anotherblock comercializa os direitos musicais através de produtos digitais. Ela é uma das mais de cem startups de música Web3 surgidas desde o segundo semestre de 2021, que prometem transparência em relação à distribuição dos royalties e empoderar artistas como Janice.
“Queríamos encontrar uma maneira de possibilitar que pessoas de todo o mundo investissem em suas músicas favoritas. NFTs e blockchain se tornaram mais um resultado porque a tecnologia se adequava bem a isso. Vejo um futuro em que você poderá comprar ações de música como compra ações de empresas na bolsa de valores”, apostou Strömsten.
Os fundadores garantem soluções para três problemas: incapacidade de investidores comuns para acessar classes de ativos proeminentes, dificuldade de liquidar e abrir direitos de música para um mercado mais amplo e uma subvalorização correspondente da própria música.
O trio sueco ganhou o suporte de um outro conterrâneo famoso para alavancar a startup: Steve Angello, DJ e produtor, dono de gravadora e integrante do Swedish House Mafia, cujo um dos maiores sucessos abre ‘The Playlist’.
Em janeiro, Angello participou da rodada de US$ 1,2 milhão levantada pelo fundo VC J12 , que tem sede em Estocolmo. Depois, em junho, foram captados mais US$ 2,5 milhões.
Desde os aportes, já foram três produtos criados ( veja mais detalhes na nossa edição de 4 outubro):
Acquainted, o hit estourado de The Weeknd escrito e produzido por DannyBoyStyles, que ofereceu ações de sua parte dos royalties de streaming por meio de NFTs
Hit da colaboração entre R3HAB e Laidback Luke
Alone, de Alan Walker & Ava Max
No formato da Web3, a maioria dos lançamentos costuma render a um músico, em média, um mínimo de 2,5 ETH. Antes do crash do mercado, isso equivalia a cerca de US$ 7.000. Para receber este valor via Spotify, ele precisaria ter mais de um milhão de streams.
Em 2021, os artistas independentes representaram 64% das vendas de tokens de música.
A medida que mais players entram, o preço médio para adquirir um token de música diminui. Entre fevereiro e dezembro de 2021, o valor caiu de US$ 18,8 mil para US$ 10,2 mil. Uma baixa significativa de 46%.
Atualmente, é possível ter um colecionável musical por menos de US$ 20.
Se o trio da Anotherblock repetirá o milagre da música sueca na nova internet, não sabemos. Porém, a aposta da empresa na tecnologia sustentada pela descentralização é um ótimo motivo para acreditar no futuro promissor. Afinal, ‘The Playlist’ nos ensina que ignorar as inovações que batem na porta não é uma estratégia inteligente.
“A Suécia tem uma longa história de estar na vanguarda da criatividade e inovação na indústria da música, e sabemos que para manter músicas novas e empolgantes, os criadores devem ser apoiados e receber pagamento pelo seu trabalho. A menos que mudanças profundas sejam implementadas na maneira como os artistas podem monetizar sua criatividade, a indústria da música está em uma corrida para o fundo do poço. Nós trazemos a solução: aproveitando a mais recente tecnologia e experiência no setor, nossa plataforma protegerá os criadores e os apoiará à medida que continuam enriquecendo a sociedade e nossa cultura”, disse Michel D. Traore, CEO da startup.
TBP Convida
Fechamos nossas duas edições especiais, trazendo mais empreendedores e profissionais de segmentos distintos da indústria da música para as considerações finais sobre as consequências do negócio de streaming e os possíveis impactos da nova revolução promovida pela Web3.
Arthur Baccam e George Guerra, co-fundadores do Musii, a plataforma de música Web3 que possibilita que artistas novos e emergentes vendam parte de seus royalties musicais, nos contam sobre o surgimento da startup, a oportunidade da nova internet para este mercado e as dores de empreender em um cenário ainda desconhecido.
O Musii nasceu como uma Rede Social com o objetivo de conectar as pessoas pela música e fazer com que mais músicas chegassem a mais pessoas. Um lugar onde você compartilha músicas que gosta, segue pessoas com gosto musical parecido com o seu e descobre novas músicas que, provavelmente, o algoritmo das plataformas de streaming não indicariam. No Musii, as músicas que você descobre vem através de pessoas, não de algoritmos. Conhecemos bem a dor dos artistas independentes e sabemos como esse mercado é centralizado e remunera mal os artistas pequenos. Sempre tivemos o propósito de ajudar os artistas independentes a monetizarem de diferentes formas e poderem realmente ganhar dinheiro com sua carreira musical.
Não só a indústria da música, mas diversas indústrias estão passando por uma transformação digital com a chegada da Web3. Enxergamos essa oportunidade, construímos uma solução e hoje estamos provando um outro modelo de receita para artistas, que já é mais significativo monetariamente do que os serviços de streaming. Apenas para exemplificar: hoje, um artista brasileiro no Spotify que tem 10 mil ouvintes mensais ganha em média US$ 40 por mês. Ao invés de dez mil ouvintes mensais, imagine apenas 20 fãs, cada um pagando US$ 10 para estar mais próximo desse artista? Já são cinco vezes mais do que ele recebe no Spotify.
Tudo ainda é muito novo, mesmo para nós que lidamos com a Web3 no dia a dia. Por isso, o maior desafio é investir tempo na parte educacional, ou seja, ensinar artistas e fãs como criar uma carteira, a importância de guardar as palavras-chave, como funciona a Blockchain, quais as diferenças entre as chains existentes e por aí vai. Por isso, entendo que o trabalho de vocês da The Block Point é essencial para difundir esses temas e, realmente, educar as pessoas, trazendo conteúdos didáticos, casos reais e palpáveis.
Queremos cada vez mais aprimorar nosso negócio para dar mais oportunidades para artistas independentes. Enxergamos que a força das comunidades e a aproximação com fãs e apoiadores é mais importante e mais rentável do que dezenas de milhares de ouvintes mensais nas plataformas de streaming. Nossa projeção para o futuro é ser o maior marketplace de música do mundo, onde artistas podem vender experiências, produtos exclusivos e royalties musicais para seus fãs por meio de NFTs.
Pense em um artista que você gosta e que ele está oferecendo algumas experiências exclusivas para seus fãs. nde você procura esse tipo de experiência? A ideia é que o Musii seja esse lugar. Imagine você como um artista argentino que tem uma base de 100 fãs em São Paulo, mas não sabe onde fazer um show intimista para esses fãs na cidade. A ideia é que o Musii seja esse lugar. Ou seja, tudo que envolver aproximação entre fãs e artistas, o Musii fará parte disso.
Marcelo Beraldo, diretor artístico da T4F, a gigante brasileira de entretenimento e produção de eventos ao vivo, expõe o seu ponto de vista para as seguintes questões: a relevância das gravadores e agências para um artista, se a música grátis realmente teve o poder de impulsionar os artistas para fazerem muito dinheiro com turnês, e se a Web3, de fato, pode fortalecer os músicos independentes.
As gravadoras e agências ainda são muito importantes, pois além de controlar a agenda dos artistas, os promove junto aos contratantes. No caso das gravadoras, muitas vezes elas também são as principais divulgadoras do trabalho de seus artistas para os fãs, nas diversas plataformas de streaming, TVs e rádios. Os contratantes dos festivais estão sempre analisando os dados de audiências dos artistas.
Até os anos 1990, o consumo de música gravada (fonograma) era maior do que o consumo de música ao vivo. Com o advento dos softwares de compartilhamento peer-to-peer e, consequentemente, o aumento exponencial da pirataria, a indústria fonográfica se viu ameaçada e suas receitas despencaram. Apesar disto, a democratização do acesso à música, ainda que tortuosa, incentivou tanto os artistas a fazerem mais shows como forma alternativa de receita, quanto os fãs a irem a mais shows e festivais. A partir dos anos 2010, com a popularização das plataformas de streaming, pagas ou gratuitas, a indústria fonográfica voltou a crescer e, embora tenha atingido níveis semelhantes ao do auge do passado histórico, impulsionou ainda mais o consumo de música ao vivo. Hoje, tanto música ao vivo, quanto fonograma, estão em trajetória de alta, uma impulsionando e sendo impulsionada pela outra num crescimento simbiótico.
Acredito que a Web3 ainda irá ajudar a revolucionar a maneira como se contrata um artistas e se distribui sua música. A T4F já contratou diretamente um artista. Isto nem é tão raro, mas há sempre a figura de um empresário que pode ser exclusivo, ou não, do artista. Esta tendência deve se consolidar ainda mais, com a digitalização da contratação de artistas.
Nathália Ripoll Hamer, advogada sênior, propriedade intelectual/entretenimento do Grupo Globo e especializada em direito societário e mercado de capitais pela FGV, diz como a Web3 pode revolucionar o negócio da música em relação ao controle e distribuição da propriedade intelectual.
As novas possibilidades criadas a partir da tecnologia blockchain como plataforma de música na Web3 proporcionam vantagens para fãs e artistas. Essa tecnologia permite, ainda, a implementação de melhorias em processos de streaming de música, monetização, mediação entre criadores e clientes, transações rápidas, taxas de pagamento viáveis, além de garantir a segurança de que todos os registros musicais feitos consistem nos dados do titular de direitos autorais e que todas as demais informações estarão disponíveis a toda a comunidade daquele sistema.
A tendência de que artistas, produtores e músicos passem a ter controle sobre seus ativos e a distribuição de royalties em tempo real, on chain, por meio de smart contracts eficientes, sem intermediários, se mostra cada vez mais presente.
O acesso às atividades dos fãs e aos dados do streaming sem filtro prévio das gravadoras, distribuidores ou plataformas de streaming possibilitam, ainda, a maior proximidade do artista e a criação de uma comunidade global, focada em música e eventos.
Diante das inovações que se impõem à nossa realidade, inúmeras são dúvidas que se apresentam, como, por exemplo, se a descentralização do controle de distribuição e aplicações diversas trazidas pela blockchain, NFTs musicais, concertos no metaverso e outros remetem aos questionamentos oriundos quando do surgimento do streaming de música. Há execução pública de músicas em shows realizados no metaverso ou reproduções individuais via streaming? Qual a jurisdição competente? A análise não é simples e há diversos outros questionamentos no campo dos direitos autorais, como a partilha dos royalties.
A ausência de regulamentação específica, a aplicação por analogia dos casos existentes no mundo presencial e a previsão de exploração por meio das novas tecnologias nos contratos de cessão e licenciamento, mostram-se os recursos mais adequados para que todas as categorias de profissionais sejam beneficiadas até que haja um marco regulatório sobre o tema.
Direto ao ponto
Nesta sessão, sempre traremos alguns poucos e bons destaques sobre o que está acontecendo neste mercado
Brasil registra a maior adoção de criptomoedas na América Latina
Volume de negociação do NFT do Reddit atinge máxima de todos os tempos
WAGMI - We’re all Going To Make It
O mantra adotado pelos entusiastas desta tecnologia que expressa boas notícias e tem conotação de que estamos juntos para fazer isso acontecer.
Afinal, conectar, democratizar, construir e pertencer a uma comunidade são os valores que irão nortear nossa jornada
Você, Block Pointer, estará dentro da maior transformação desde o surgimento da internet e nos ajudará a construir este futuro
Para isso, disponibilizamos nossa plataforma para que compartilhem suas ideias e experiências dentro da Web3.
The Block Point
Conectando entusiastas à tecnologia do futuro. Somos o agente de informação e o ponto de encontro para todos que participarão desta revolução.
Todas as terças e quintas-feiras, às 12:12, de forma simples e fácil de ser entendida, mostraremos as infinitas e ótimas oportunidades que a blockchain traz.
Até terça
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