Saída à francesa
GM, Block Pointers. Fanatics recua e aborta expansão do seu império por meio de propriedades esportivas digitais. O que significa a decisão de Michael Rubin e como ela impacta este mercado em 2023
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A Amazon dos Esportes pulou fora
Michael Rubin participou da VeeCon, no fim de maio do ano passado, em Minneapolis, para falar sobre como a Web3 poderia criar uma economia digital multiplataforma inclusiva. Ele esteve ao lado de Gary Vee, idealizador do evento, e Michael Novogratz, CEO da Galaxy Investment Partners.
Os dois também eram sócios-investidores de Rubin na Candy Digital, uma plataforma de colecionáveis digitais criada em outubro de 2021.
Taxativo, Rubin destacou a importância de a nova tecnologia não ser restrita a um grupo de nativos digitais, e fez uma profecia sobre o futuro:
"Se você não pensa assim em qualquer negócio que construa, seja um negócio NFT, Mitchell & Ness que possuímos, seja VaynerMedia, Galaxy, acho que você está morto. Qualquer empresa que não tiver isso será morta ou eliminada mais cedo ou mais tarde."
A colaboração entre Candy Digital e Major League Baseball (MLB), firmada em janeiro de 2022, representava o maior símbolo da inserção do mainstream no mundo Web3 pregada pelos fundadores.
Afinal, o mercado de produtos digitais da MLB prometia uma "plataforma voltada para os fãs e trazer um público muito mais amplo para o espaço criptográfico."
Enquanto a conclamada integração da tecnologia com a comunidade esportiva aparentemente funcionava, o tal "negócio NFT" mencionado por Rubin em sua projeção, de repente, estagnou.
Antes da primeira semana de 2023 se encerrar, o empresário anunciou a venda de sua participação de 60% na Candy Digital.
Um e-mail interno enviado em 4 de janeiro, e vazado pela CNBC, era categórico sobre os motivos:
“Os NFTs provavelmente surgirão como um produto/recurso integrado e não como um negócio autônomo."
“No ano passado, ficou claro que é improvável que os NFTs sejam sustentáveis ou lucrativos como um negócio independente."
O NOVO DONO: No e-mail circulado internamente, Michael Rubin disse que a Fanatics vendeu sua participação para um grupo de investidores liderado pela Galaxy Digital, o outro sócio fundador citado no início desta edição. O preço não foi divulgado. A empresa recebeu a avaliação de US$ 1,5 bilhão na época em que foi criada. “A alienação de nossa participação acionária neste momento nos permitiu garantir que os investidores pudessem recuperar a maior parte de seus investimentos em dinheiro ou ações adicionais na Fanatics – um resultado favorável para os investidores, especialmente em um mercado de NFT em implosão que registrou quedas vertiginosas em ambos os volumes de transações e preços para NFTs independentes”, escreveu Rubin.
Para quem não está familiarizado com o nome de Michael Rubin, ele é simplesmente o fundador da Fanatics, a gigante de comércio eletrônico e vendas de roupas e itens esportivos licenciados avaliada em US$ 31 bilhões.
Paralelamente à criação da Candy Digital, o empresário, por meio da Fanatics, levantou, em setembro de 2021, US$ 350 milhões para garantir acordos de licenciamento com a NFL, MLB e NBA para o segmento de colecionáveis. Detalhe: ele conseguiu isso sem nunca ter produzido um card esportivo.
Seis meses depois, a Fanatics desembolsava US$ 500 milhões para comprar a Topps, passando a integrar totalmente o seu negócio de colecionáveis físico e digital e um banco de dados com mais de 80 milhões de clientes.
Por trás da aposta no segmento de colecionáveis, seja através da Candy Digital ou da Topps, estava a nova fase do projeto de expansão da Fanatics sobre propriedades esportivas, além do varejo.
Para o ambicioso plano de erguer um império de US$ 100 bilhões, Rubin mirou suas atenções para os colecionáveis digitais, apostas esportivas e iGaming.
E isso significou colocar à venda sua participação de 10% na Harris Blitzer Sports and Entertainment (HBSE), a controladora do Philadelphia 76ers, da NBA, uma das grandes paixões de Rubin.
Antes de abdicar da Candy Digital, Rubin foi eleito pelo The Athletic, em 14 de dezembro, o empresário esportivo do ano de 2022. A renomada publicação justificava a escolha, alegando que o executivo é responsável por estar transformando a Fanatics na “Amazon dos Esportes".
"No ano passado, Rubin conduziu a Fanatics para o espaço de colecionáveis esportivos, expandiu o negócio principal de vestuário com novos negócios e aquisições e preparou o terreno para entrar no jogo esportivo."
"O que anima Rubin em particular é o golpe de mestre em duas frentes que ele deu para assumir rapidamente o controle do negócio de cartões colecionáveis em meio ao boom contínuo de colecionáveis esportivos."
Mal sabia Bill Shea, o repórter que abriu a reportagem sobre a nomeação de Rubin com as citações acima, que uma das frentes iniciadas seria imediatamente limada menos de um mês depois da entrega do prêmio.
A decisão de Rubin, neste momento, é o mais novo "golpe de mestre" do empresário? A saída à francesa seria um descrédito a este mercado em meio ao derretimento da criptoeconomia e das incertezas em relação a Web3 para 2023?
Relatório divulgado pela IMG e Seven League antes do Natal, apontou que a “conversão” de fãs de esportes em entusiastas de NFT foi “muito mais lenta do que o esperado”, deixando um alerta sobre mudanças de estratégias para este ano:
“Para o esporte, é provável que em 2023 a inovação não se concentre em usar essas novas tecnologias apenas para ganhar dinheiro, mas sim para melhorar o relacionamento com fãs e clientes."
A recomendação reforça os argumentos de Rubin sobre NFTs não se sustentarem como um negócio autônomo.
O episódio Candy Digital e as constatações do dono da Fanatics acontecem em um momento de "reorganização" de quem liderou a cena Web3 nos esportes.
Em 2 de novembro, a Dapper Labs, criadora do NBA Top Shot e NFL All Day, e investidora de outros projetos esportivos, como o OneFootball Labs, cortou 22% de seu quadro de 600 funcionários - 26 dias depois, a própria Candy Digital demitiria um terço da força de trabalho.
"Simplificamos as operações e estamos bem capitalizados. Estamos bem posicionados para o futuro, com um balanço sólido, parcerias plurianuais com algumas das marcas mais duradouras do mundo e linhas de negócios que estão no início de sua história, acreditando ter 100x de vantagem."
Garantir a saúde financeira ao mesmo tempo em que assegura estar construindo um negócio que dará vantagem competitiva sobre a grande maioria são as duas principais retóricas de Adam Barrick, vice-presidente de parcerias da Dappes Labs, para descartar qualquer cenário de crise.
Em entrevista por e-mail ao The Athletic, na última sexta-feira, Barrick lembrou que as tecnologias emergentes trazem uma nova maneira de as marcas revolucionarem o fandom. E as receitas oriundas dos produtos digitais são apenas uma das consequências.
"Construímos colecionáveis digitais para fornecer valor de longo prazo aos fãs. Eles não são, nem nunca foram um produto de investimento. O volume de transações não é uma métrica que conta a história completa do produto ou mostra por que ele faz sucesso com os colecionadores", afirmou.
O NBA Top Shot acumula mais de US$ 1 bilhão em vendas desde a estreia em 2020. Boa parte delas acontece no mercado secundário.
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Na véspera do Natal, um momento de LeBron James foi comercializado por US$ 25 mil. No último dia 31, três lances de Luka Doncic receberam ofertas de US$ 10 e US$ 11 mil, que acabaram sendo aceitas pelos proprietários.
Já o NFL All Day, a versão do Top Shot para o futebol americano, ainda está distante de alcançar a marca bilionária do basquete.
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Até agora, são US$ 68 milhões gerados a partir das transações dos colecionáveis, sendo que US$ 34 milhões aconteceram entre fevereiro e julho, quando o produto estava em beta fechado.
Em dezembro, foram registrados apenas US$ 2 milhões, a menor marca desde agosto, quando o mercado foi aberto a todos os fãs. O preço médio da transação caiu de US$ 42 para pouco mais de US$ 21.
Além de Adam Barrick, dois especialistas foram convidados para responder a pergunta que apresentou a reportagem bem oportuna do The Athletic: NBA Top Shot, NFL All Day and the new NFT reality: What’s next as market falls?
"De modo geral, acho que é porque não é mais fácil ganhar dinheiro. Antes, você podia comprar qualquer coisa (digital) de olhos fechados, e, na maioria das vezes, vendia e ganhava dinheiro (...) É difícil imaginar um catalisador que devolverá ao mercado algo parecido com o que era em seu auge", Jamie Catherwood, consultor financeiro especialista em estudo de bolhas históricas.
"O hype caiu e todos nós sabemos disso. O problema deste espaço é que uma coisa ruim envenena a cesta. As pessoas não sabem diferenciar", Merav Ozair, consultor fintech especialista em criptografia e blockchain.
Os últimos episódios também são reflexos da falência da FTX . A queda abrupta da corretora não apenas simbolizou o colapso da criptoeconomia, como também trouxe impactos sem precedentes para o ecossistema esportivo.
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O apetite voraz pelo dinheiro oferecido especialmente pelas marcas cripto, favoreceu um cenário em que a prioridade era a receita imediata em detrimento do entendimento do produto e da construção de estratégias sólidas pensando no longo prazo.
"Quando a criptografia começou a entrar, parecia que era algo novo e sobre inovação. Você tem que questionar quanta diligência foi feita", criticou Steve Martin, diretor executivo global da M&C Saatchi Sport & Entertainment.
RESCISÃO: A FTX solicitou formalmente o cancelamento de todos os seus patrocínios esportivos como parte do processo de falência. Em seu auge, ao longo de 2021, a exchange desembolsou US$ 350 milhões para se associar a marcas esportivas. O maior valor é referente à compra do naming rights da Arena do Miami Heat: US$ 135 milhões. Na audiência judicial mais recente, funcionários indicaram que revelariam o que levou a sua queda épica “em questão de tempo."
A ausência de qualquer análise de risco mais robusta é comprovada pela European Sponsorship Association (ESA), que convidou 133 stakeholders detentores de direitos esportivos para seu estudo sobre due diligence e patrocínios.
Entre os dados revelados em dezembro, um deles, sem surpresas, reflete o que significou a relação entre as empresas cripto e os esportes:
"Dos mais de 100 entrevistados que forneceram comentários adicionais, cerca de 20 mencionaram especificamente o setor de criptomoedas, com muitos indicando cautela ou que já haviam sido afetados negativamente por uma aliança de dentro dele."
A sequência sinistra de episódios que causaram abalos sísmicos nas relações entre os esportes e a nova tecnologia obrigam a uma reflexão profunda por parte de atletas, clubes e instituições e as marcas da Web3.
O aviso de Michael Rubin é só mais um recado sobre o tamanho do desafio.
A The Block Point sempre tratou a nova tecnologia como um meio de enorme potencial para alavancar marcas e comunidades empoderadas e estabelecidas a partir de conexões genuínas. Façamos das palavras do insider Martin Berg as nossas:
"A tecnologia NFT é um iceberg enorme, subestimado e incompreendido. Um grande iceberg com um monte de fotos de animais em cima dele. É fácil ser enganado e pensar que é disso que se trata. Mas não é. Sob a superfície esconde-se uma tecnologia com muito mais para oferecer. É um invólucro de dados padronizado, permitindo a propriedade digital. Veio para ficar. É mais valioso aprender agora do que recuperar o atraso mais tarde."
Não temos a pretensão de fazer o exercício de futurologia sobre a Web3 para 2023. O que o CEO da Fanatics e o estudo da IMG e Seven League trouxeram, apenas endossam a nossa linha editorial que vocês acompanham desde nosso surgimento, há nove meses.
E seguiremos assim, entendendo o processo como uma construção gradual edificada por boas informações e educação.
Direto ao ponto
Nesta sessão, sempre traremos alguns poucos e bons destaques sobre o que está acontecendo neste mercado
WAGMI - We’re all Going To Make It
O mantra adotado pelos entusiastas desta tecnologia que expressa boas notícias e tem conotação de que estamos juntos para fazer isso acontecer.
Afinal, conectar, democratizar, construir e pertencer a uma comunidade são os valores que irão nortear nossa jornada
Você, Block Pointer, estará dentro da maior transformação desde o surgimento da internet e nos ajudará a construir este futuro
Para isso, disponibilizamos nossa plataforma para que compartilhem suas ideias e experiências dentro da Web3.
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