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GM, Block Pointers. Novo movimento da Premier League mostra como tecnologia é vista só como patrocínio para boa parte dos esportes, que representam menos de 1% do total do mercado digital
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O dilema inovação x dinheiro novo
O pré-acordo de US$ 459,3 milhões que cedia à ConsenSys os direitos de imagem da Premier League para NFTs por quatro anos, acompanhou a derrocada cripto nos últimos meses e derreteu-se oficialmente em setembro.
A solicitação de revisão dos valores acertados previamente por parte da empresa foi o pretexto perfeito para os ingleses finalizarem as conversas. E também caírem na real.
Em negociações com empresas de Web3 desde o início do ano na expectativa de vender suas propriedades por até US$ 500 milhões, a Premier League provavelmente percebeu que em algum momento o mercado inflado artificialmente por muita especulação iria declinar-se. O que de fato aconteceu.
Sem qualquer cerimônia, os ingleses retomaram as conversas com a Sorare, que havia sido descartada entre as candidatas que participaram do processo de aquisição dos direitos no primeiro semestre. (Confira nossa última edição que mostra como a Sorare usa a NBA para se consolidar no mercado dos EUA.)
Nesta sexta-feira, a Premier League apresentará a oferta de US$ 34,5 milhões anuais feita pela empresa francesa aos seus 20 clubes. O acordo que prevê a cessão do uso das imagens estáticas dos jogadores já é dado como certo pela Sky News.
A proposta bem mais modesta comparada à projeção inicial feita pela liga de futebol mais rica do mundo, não retrata somente o atual cenário econômico circundante aos ativos digitais.
Os números também refletem o tamanho do nicho esportivo comparado ao de outros segmentos considerando a capitalização de mercado para colecionáveis digitais:
Apesar do cash, o valor total do mercado de NFTs aumentou quase cinco vezes, saindo de US$ 4,6 bilhões em setembro do ano passado para US$ 22,5 bilhões agora, registrando pico de US$ 35 bilhões no início de 2022.
E a maioria esmagadora do market cap está concentrada em apenas cinco categorias que representam 94,8% do total: profile picture (PFP), colecionáveis, games, arte e terrenos virtuais.
As informações estão compiladas no estudo ‘The Web3 Pulse 2022: What is the data saying about crypto adoption?’ feito pela Leapfrog Crypto com dados da NFTGo e DappRadar.
Considerando que a indústria esportiva movimentou menos de um por cento do total do volume de NFTs comercializados nos últimos 12 meses, os US$ 2,4 bilhões investidos por marcas de criptografia e Web3 em patrocínios para ativações de seus diversos produtos são justificáveis?
Será saudável para estas empresas manterem esse ritmo até o momento (que não sabemos) de massificação desta tecnologia?
RECORTE PARA O BRASIL: Relatório feito pela Win The Game, empresa de esportes e negócios que tem a Holding do BTG Pactual como sócia, e o escritório Marcello Macêdo Advogados, mostrou que 52 clubes e instituições do esporte no país assinaram contratos de patrocínio com empresas da criptoeconomia. Os fan tokens foram os principais produtos adquiridos, movimentando R$ 2,2 bilhões. Dos 40 participantes das Séries A e B de futebol, 29 têm acordos para tokens.
A Premier League segue o caminho de outras ligas e entra no universo digital tendo o dinheiro como principal motivador. E não há qualquer problema quanto a isso. (Leia nossa edição sobre colecionáveis digitais e futebol, e veja como Itália e Espanha lideram as iniciativas.)
Quando tratamos sobre uma nova tecnologia, entretanto, priorizar o viés mercantilista em detrimento de iniciativas que vislumbrem modelos de negócios sustentáveis e a integração da maioria, pode incorrer em uma estratégia equivocada.
A The Block Point mostra um case bem atual para justificar a provocação.
Pouco mais de um ano após anunciar a parceria com a Dapper Labs, a LaLiga apresentou, há uma semana, os primeiros produtos da colaboração através da plataforma LaLiga Golazos.
A coleção Eterno Rival trouxe 3.000 pacotes com momentos de 36 jogadores que disputaram os nove maiores clássicos do futebol espanhol.
O primeiro lançamento aconteceu em beta fechado para testar o produto. Os primeiros drops foram acessíveis apenas por convite. O preço do pack com três vídeos foi comercializado a US$ 199,99!
Inscrever-se na lista de espera não garantia elegibilidade para a compra. A Dapper divulgou que privilegiaria um pequeno grupo, “incluindo os maiores fãs da LaLiga e colecionadores selecionados”.
Acompanhamos a repercussão nos dois dias seguintes na comunidade da LaLiga Golazos no Discord, onde estão inscritos 7.605 membros.
Vejam alguns trechos:
“Esperaria 50-75 dólares. Depende do que esta equipe trouxer de útil para o projeto. Mais uma vez estritamente especulação.”
“O fato de o primeiro drop não se ter esgotado deveria conduzir a uma reflexão profunda sobre todos os aspectos. Não se acertou no público-alvo. Para que este projeto tenha êxito, é necessário envolver ativamente os adeptos de futebol, não os adeptos da Dapper. O preço do pacote é um disparate. Numa altura em que todos os projetos de NFT estão a rever os preços em baixa, La Liga Golazos decide que é uma boa ideia fixar o preço do primeiro pacote (3 momentos) em 199,99 dólares!!”
“Não vi um anúncio, campanha de marketing, nem uma invasão de artigos ou cobertura midiática. Sou um público alvo de qualquer tipo de campanha online sobre o assunto, sou utilizador ativo do NBA Top Shot, entro diariamente e leio todos os artigos e não recebi um único impacto sobre La Liga Golazos a partir de qualquer outro meio de comunicação que não o próprio Dapper (Discord, Twitter).”
Veja como a Premier League busca novas fontes de receitas usando as tecnologias emergentes:
A retórica exaustiva de melhorar o engajamento do fã através dos produtos digitais, e que tornou-se um clichê na cartilha das empresas, tem se mostrado mais utopia do que, de fato, uma realidade.
Existe um grande desafio para envolver os torcedores e fazer com que esta nova tecnologia e suas ótimas possibilidades sejam compreendidas pelo público real do futebol e dos demais esportes.
TBP Convida
O contraponto entre inovação nos esportes e a busca por receitas imediatas é um tema recorrente que trazemos justamente por considerar a tecnologia emergente como um meio alavancador de marcas e negócios. Dinheiro é consequência.
Para engrandecer este debate, trouxemos dois nomes relevantes do mercado brasileiro de esportes e tecnologia.
Convidamos Bruno Maia, professor e autor do livro ‘Inovação é o Novo Marketing’, e fundador da Feel The Match, empresa focada na produção de conteúdos para Web3 e streaming, e João Ricardo Pisani, gestor esportivo e Associate e pesquisador da Win The Game.
Ex-vice presidente de marketing do Vasco, Maia trouxe uma visão geral sobre as provocações feitas pela TBP, inspirando, inclusive, o subtítulo da nossa edição de hoje.
O futebol não gosta de inovação. O futebol gosta de dinheiro novo, mesmo que ele não entenda o que ele está vendendo. Isso vale para quase todo o mercado mundial e ainda mais para o mercado brasileiro. Quando escrevi o "Inovação é o Novo Marketing" (2020), depois de ter passado pelo cargo de VP de Marketing do Vasco da Gama, já partia bastante desse insight para cravar que o futebol mudaria em 10 anos o que não havia mudado em 100. Não afirmava isso por ver um viés vanguardista ou uma vontade de se atualizar, mas porque havia muito dinheiro para se fazer no futebol com negócios digitais e o dinheiro não aceita ofensa muito tempo. Ele ia acabar invadindo o esporte pela sua própria força e levar as mudanças a acontecerem.
O modelo de patrocínio é o modelo de "marketing", que entrou no futebol nos anos 70 e 80, e baseia boa parte da capacidade de geração de novas receitas até hoje. Quando escolho o título que dei ao livro citado era justamente por crer que a inovação era um novo campo de entrada de capital a ser descoberto e explorado pelo esporte. Por isso, também não é estranho ver como boa parte dos produtos digitais comecem a se posicionar como contrapartidas de... patrocínios. Em vez de serem entendidos como fontes de receita em si, eles são inicialmente um apêndice.
Não tenho dúvida de que esse jogo vira, pela mesma razão que descrevi acima: o dinheiro não aceita ofensa muito tempo. O problema desse início... vamos chamar de... "inadequado", faz com a rota seja mais longa para se chegar a um mesmo lugar. A inovação e os produtos digitais são, por princípio, meios transacionais diretos, com menos intermediários, facilitando a vida do consumidor e do provedor. Os clubes, em especial, ainda não entenderam tão bem o potencial que teriam como pólos centrais de inteligência geradora e criadora dessas oportunidades.
O avanço das soluções em Blockchain tende a acelerar isso. O sucesso mais rápido de quem for bem por esse caminho também acabará pautando o mercado. Vai chegar. E ainda assim, apesar de todos os percalços, dois anos depois de ter dito isso pela primeira vez, não mudo em nada a minha previsão: o futebol vai mudar em 10 anos (dos quais já se passaram dois), o que não mudou em 100.
Repercutimos com João Ricardo Pisani o estudo feito pela Win The Game em parceria com o escritório Marcello Macêdo Advogados. Perguntamos qual a percepção dele sobre o que significa o número de R$ 2,2 bilhões movimentados em fan tokens no país (ativo financeiro ou utilidade/colecionável), e como ele enxerga a entrada das empresas da criptoeconomia nos esportes: é somente um patrocínio sem planos para projetos sustentáveis?
Esse número confirma que o mercado de fan tokens já é uma realidade do ponto de vista de engajamento. O produto tem a atenção do torcedor e consegue cativar, principalmente, esse perfil mais engajado e familiarizado com cripto. Em paralelo, o mercado de fan tokens está em franco crescimento do ponto de vista do produto. Faltam ainda dinâmicas, trocas e experiências mais elaboradas que consigam proporcionar mais tração entre o token e o torcedor. Desdobrar os fan tokens em cima de colecionáveis, como ingressos em NFT, ou dar acesso a descontos e oportunidades exclusivas, é essencial porque ajuda a tangibilizar o que é ativo para o torcedor. Dessa forma, quem já está dentro do ecossistema pode se engajar mais, e quem está fora consegue enxergar de forma mais clara os benefícios do token.
Esse formato que vocês cita foi a porta de entrada para um tipo receita que além de nova, também precisa vir acompanhada com uma certa dose de esclarecimento e maturação. Nem todos os dirigentes e torcedores estavam familiarizados com o universo de possibilidades que a criptoeconomia pode proporcionar. Alguns anos atrás evoluímos de um patrocínio estático na barriga da camisa, ou numa placa a beira do gramado, para um oceano de oportunidades com as redes sociais. Essa transição também precisou do mesmo tipo de esclarecimento e maturação.
Os fan tokens e outros ativos como os tokens estruturados em cima do mecanismo de solidariedade do futebol e NFT são produtos “vivos”. Para que eles se tornem projetos sustentáveis é necessário que se construam verdadeiras parcerias entre a plataforma e a equipe. O ponto, agora, é respeitar essa curva de aprendizado. Esse é um ciclo ainda em evolução e acredito que em alguns meses já teremos amostras de iniciativas e produtos com muito mais maturidade usando a nova tecnologia.
Direto ao ponto
Nesta sessão, sempre traremos alguns poucos e bons destaques sobre o que está acontecendo neste mercado
Steph Curry registra marca para o Curryverse, onde os jogadores ganham NFTs
A primeira máquina de venda automática NFT da Europa estreia na NFT.London
WAGMI - We’re all Going To Make It
O mantra adotado pelos entusiastas desta tecnologia que expressa boas notícias e tem conotação de que estamos juntos para fazer isso acontecer.
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