La Masia versão 3.0
GM, Block Pointers. O que motivou o aporte milionário da Sócios.com no Barça Studios, que surgiu com a premissa de levar conteúdos customizados para o fã global e replica estratégias da Disney?
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O real valor da ilha criativa do Barcelona
Josep Maria Bartomeu convocou os principais executivos do Barcelona para encontrar uma nova fórmula que gerasse receitas vendendo o clube no mundo. Oriel Tomás, vice presidente na época, estava entre os que sugeriram, em 2015, a criação do Barça Corporate.
Para reforçar a ideia do projeto, o dirigente alegou que o futebol estava inflacionado pela onda de aquisições de clubes de pequeno e médio porte por bilionários.
“De repente apareceram Chelsea, Manchester City e PSG, com estados ricos atrás ou magnatas milionários que distorceram o mercado de contratações e nos obrigou a buscar mais renda”.
A declaração de Tomás foi dada em setembro de 2020, quando a nova diretoria oficializava, cinco anos depois, a unidade de negócios do Barcelona.
Entre as quatro marcas que integram o Barça Corporate está o Barça Studios, a plataforma que cria, produz e distribui o conteúdo audiovisual do clube (as outras são Barça Academy, Barça Innovation Hub e Barça Licensing).
O Barça Studios lançou, no fim de julho, a primeira arte digital do clube. O colecionável ‘In a Way, Immortal’ recria o lendário momento em que Johan Cruyff voou para marcar um gol contra o Atlético de Madrid, em jogo semifinal disputado em 1973. O token foi arrematado em leilão em parceria com a Sotheby’s por US$ 550.000.
Nesta semana, a Socios.com anunciou que se tornará o parceiro estratégico de tecnologia do Barcelona, acelerando as estratégias de blockchain, NFTs e ativos digitais. A empresa precursora do fan token desembolsou 100 milhões de euros para comprar 24,5% do centro de conteúdos do clube.
Em outubro do ano passado, um consórcio que tinha a gigante Fanatics como um dos líderes fez uma oferta para ter 49% do Barça Corporate. Segundo o jornal espanhol El Confidencial, a outra proposta teria sido do grupo de investimento europeu Investindustrial: € 200 milhões pelo mesmo percentual. Ambas declinadas.
Na época, um relatório divulgado pelo 2Playbook, a plataforma de negócios para esportes, informou que somente o Barça Studios estava avaliado em € 200 milhões.
Para ter praticamente um quarto, a Socios.com pagou metade do valor estimado da empresa oito meses antes.
Qual foi a real motivação que levou ao investimentos de milhões na ilha criativa do Barcelona? É somente sobre cooperar com o clube para o desenvolvimento da Web3 por meio de sua expertise?
Guillem Graell foi o diretor de marca global do Barça entre 2017 e 2021. Enric Llopart, atual sócio de Graell na 2DF (empresa de esportes e entretenimento), ocupava o cargo de diretor digital entre 2018 e 2021. Eles estiveram envolvidos diretamente na criação do Barça Studios.
Sob orientação da dupla, a produtora interna seguiu a mesma estratégia da Disney. Seria fundamental para o Barcelona promover conteúdos que criassem relacionamentos genuínos com seus fãs globais a partir da obtenção de dados mais personalizados.
“Há três anos, a Disney produzia conteúdo de alto nível e o distribuía por meio de canais onde não coletavam dados. Eles realmente não sabiam quem estava assistindo, ou quem gostava de seus filmes. O futebol é o mesmo. Com a TV tradicional, você ainda não tem os dados. Mas indo direto ou fazendo parceria com a emissora, você pode obter os dados para entender quem é seu cliente, quem é seu fã. Então você pode vender comunicações diferentes, conteúdo diferentes, produtos diferentes e ter preços diferentes “, explicou Graell em entrevista ao The Athletic.
O Barça Studios gerou, em dezembro de 2020, € 30 milhões em receitas. Atualmente, o plano anual de acesso ao streaming do Barça TV + custa € 44,99. Ele inclui ainda direito a um cartão de membro e descontos em ingressos e produtos.
A fábrica de conteúdo audiovisual também explora a propriedade intelectual (IP). Em parceria com a Sony Music Latin Iberia, nasceu a ‘Talent Explores’, a terceira série animada do estúdio.
Antes, foram produzidas “Matchday”, lançada pela Netflix América Latina, e “La Masia”, o primeiro produto roteirizado e que foi escrito pelo renomado Albert Espinosa.
Se dentro de campo a prioridade é revelar e desenvolver os jovens jogadores de La Masia, com o Barça Studios a ordem no clube é vender assinaturas e customizar conteúdos que serão escoados pelo produtora para todo o mundo.
O Barça acumula mais de 400 milhões de fãs em suas redes sociais. Dados de março do Deportes&Finanzas mostram que o clube lidera o ranking de interações no Instagram. No top 20 global, os homens também ganharam a companhia do time feminino.
“Sabemos que apenas três por cento da base de fãs do Barcelona virá ao Camp Nou. Três por cento! Então você tem 97 por cento que são muito, muito fãs, mas eles nunca virão aqui. Clubes como Barcelona, Manchester United ou Real Madrid são grandes marcas em termos de seguidores, emoção e paixão. A receita de marcas semelhantes (em outras indústrias) é muito maior. A receita da Disney é de quase US$ 70 bilhões, contra US$ 1 bilhão do maior clube de futebol. Se soubermos o que os fãs querem e pudermos nos conectar diretamente com eles, haverá grandes oportunidades de negócios”, analisou Graell.
Lembra-se da pergunta feita no início da edição sobre o que motivou o aporte milionário da Sócios.com no estúdio? A resposta vem por meio da oportunidade de 97% e como ela já vem sendo explorada internamente pelos catalães. Afinal, o produto desenvolvido pela empresa de tokens é justamente conectar fãs aos clubes, independentemente onde estes torcedores estejam.
Em tempos de economia descentralizada e de ownership, começa a fazer sentido a criação de produtos digitais para os legítimos amantes do futebol, escalando esta paixão por todo o planeta através de tokens e NFTs.
“Cada vez mais, o torcedor terá uma opinião sobre algumas decisões. A tecnologia já existe e vai evoluir. Acreditamos que o fã deve decidir um grande número de coisas e os tokens de fãs são um grande pilar para isso”, apostou Graell.
Se você ainda não ficou convencido sobre o real valor do novo movimento da Sócios.com, sugerimos que pondere a partir da reflexão feita por um dos criadores do Barça Studios, recordando-se do patrocínio de € 280 milhões fechado entre o clube e o Spotify para os próximos três anos.
“Imagine um clube como o Barcelona com 300 ou 400 milhões de pontos ou registros de dados para cada um de seus torcedores. O valor do clube seria enorme e o Spotify pagaria 50 vezes o que está pagando.”
Direto ao ponto
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